segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

FABRÍCIA MIRANDA: POEMA


(Antonio Corpora)



INSÔNIA

Seria feliz se pudesse dormir.
Esta opinião é d’este momento, porque não durmo.
Tenho uma indigestão na alma.
(Fernando pessoa)


A paixão, essa cidade forjada de alfinetes.
...
Há uma porta, e eu me nego.
...
Há tanto me custou costurar minhas córneas,
Carregar meus pés quase em necrose
E caminhar sobre os ossos de minhas canelas.
...
Fecho as portas por trás de mim, por onde passo
E vou ouvindo pancadas
De um íntimo que me perturba:

– Sou estranha! Me abandonem todos!


(Meu grito é uma súplica que mente.)
...
Não tenho nenhum deus para onde levar minha alma.
Apenas sorrio aos meus avós, de mãos erguidas:

– Sim, (Deus), acredito!

E eles seguem tranqüilos para a morte.
...
Continuo.
Corredores, salões de bailes, catacumbas.
Fecho as portas.
...
E todos os íntimos me pedem notícias.


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