(Evelyn de Morgan)
A DANÇA DAS HORAS
Fugìt irreparabile tempus
VIRGÍLIO, Geórgicas
Dançando as horas se vão
Pelos caminhos do Tempo
Numa leveza de pluma…
Quem vedes na marcação
Do compasso e contratempo ?
- Uma.
Dançando se vão as horas
Sob os véus de fina gaze
Dançarinas semi-nuas…
Quem dança, das mais sonoras,
Esta belíssima frase?
- Duas.
Rapidamente bailando,
Cada qual mais erradia,
Desfila por sua vez.
E aquela, aos poucos finando
Nos horizontes do dia ?
- Três.
Vão dançando a tarantela…
- Mas, da última, o perfil
Me parece horrível e atro.
Ah! não falemos daquela;
Esta aqui é mais gentil.
- Quatro.
Sabeis acaso do nome
Da de vestido de faile
Que lhe queda como um brinco ?
Que pena! Logo se some …
A mais ligeira do baile!
- Cinco.
E aquela, de azul vestida,
Tão triste no seu bailar,
Seu nome acaso sabeis?
Parece o adeus da partida
Para nunca mais voltar…
- Seis.
E esta, bailando qual fronde
Ao vento que vem do mar
Em que a lua se reflete ?
Trajada como o “gran’ monde”;
Esbelta no seu bailar ?!
- Sete.
Vós me enganais no bailar:
Sei que passais sem demora
(Quisera ser tão afoito
Que vos pudesse parar).
Mas, e esta que dança agora ?
- Oito.
Sob os vestidos de gazes
Trazeis convosco a ruína;
Vosso olhar não me comove,
Falazes horas, falazes…
Mas, e aquela bailarina ?
- Nove.
Dançou o rápido “allegro”;
Nem sequer o rosto olhou-me
E eu mal notei os seus pés.
E esta, vestida de negro,
Sabeis acaso o seu nome ?
- Dez.
Agora passam mais lentas:
Vede aquela que aí vem
Dando passadas de bronze
Pelas horas sonolentas…
Que nome será que tem ?
- Onze.
Aquela outra que se arrasta
Custando tanto a passar,
Que eternamente repouse
Já de tão velha e tão gasta.
Como se deve chamar?
- Doze.
Fechando o ciclo fugace
A de perfil atro vem
E nos leva em seu transporte.
Pois dessa, de horrenda face,
Dizei-me o nome, se tem?!
- MORTE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário