sexta-feira, 22 de março de 2013

domingo, 10 de março de 2013

OMAR KHAYYAM: POEMA


(Ivan Bilibin)
 
 
Rubai 12
 
 
Lancei minh’alma além da Terra e do Infinito
 A procurar o Céu e o Inferno, a esmo.
 Quando voltou a mim, disse num grito:
 “O Céu e o Inferno estão dentro em ti mesmo.”
 
 
Trad. Ivo Barroso
 
 


OMAR KHAYYAM: POEMA

 
(Ivan Bilibin)
 
 
Rubai 5
 
 
Procura ser feliz ainda hoje;
 Nada sabes do dia de amanhã!
 Toma uma urna de vinho e foge
 Da ciência, limitada e vã.
 E antes que o dia de todo se acabe,
 Escuta, ao luar, esta sábia canção:
 “Amanhã, talvez, quem sabe?
 te procure a Lua em vão!”
 
 
Trad. Ivo Barroso
 
 

sábado, 9 de março de 2013

OMAR KHAYYAM: POEMA




Rubai 9

 

 

Eu considero vil o coração

 Que, sendo incapaz de amar, não pode

 Conhecer o delírio da paixão,

 O amor brutal que explode

 Em chamas

 E nem o beijo — essa divina

 Esmola.

 Se não amas

 És indigno do Sol que te ilumina

 E da Lua que à noite te consola.

 

 

Trad. Ivo Barroso

 


 

OMAR KHAYYAM: POEMA


(Hans Memling)
 
 

Rubai 54
 
 
… E da Sabedoria escuta a voz que tantas
 vezes já repetiu aos que delas se esquecem:
 “A Vida é breve, e não és como as plantas
 que, depois de podadas, reflorescem!”
 
 
Trad. Ivo Barroso
 
 

sábado, 2 de março de 2013

EMÍLIO MOURA: POEMA

(Marc Chagall)
 
EXORTAÇÃO
 
 
Procura bem por entre as sombras,
um vestígio sequer daquele
que, entre mil formas imprecisas,
ágil, armava sob mitos
a única via imaginável
na hora furtiva que o raptava.
 
Procuro no ar, no áspero vento,
na alma das coisas que passaram,
um sinal, um único, nítido,
de algo que, vivo, ainda te fale,
eco de extinta melodia,
sob tanta pátina e cinza.
 
Ah, procura saber de tudo o
que amor trouxe de imaginário
que dom, que força, que segredo
pulsa nessa hora que foi dele
e, apesar de efêmera, soube
a algo, afinal, de eternidade.
 
 
 

sexta-feira, 1 de março de 2013

EMÍLIO MOURA: POEMA

 
(Edvard Munch)
 
 
 
IN EXTREMIS
 
 
Um intraduzível clamor se levantará de Jerusalém,
                    Como a lamentação de Adonis Ciniro,
    Nos campos de Meguido. E toda a terra tremerá.
 
       Zacarias – (12,10, II)
 
 
Antes isso. Agora chegou o momento em que o teu espírito não terá mais
                                                                                                       [dúvida.
A fogueira está acesa, os homens desvairados, e a noite caminha como uma
                                                                                                      [fatalidade.
Procura uma só estrela dentro da noite: tua esperança há de morrer antes
                                                                [que os teus já estejam fatigados
e a melodia do vento já haja desaparecido sob o fragor e a fúria dos elementos.
 
Antes isso. A pedra fala, o vento eleva-se, a terra agita-se.
Que pranto é esse que rola em silêncio sobre tantas faces iluminadas?
(Choram as fontes, tremem as árvores, a noite está deserta...)
Que mãos são essas que, de repente, cessam de amaldiçoar e se aquietam
                                                                                                 [em êxtase?
 
Senhor! Do fundo dos corações obscuros ainda há, entretanto, corações
                            [feridos que transbordam humildemente de esperança e
                                                                                    [de reconhecimento,
e lábios que oram:
 – Sim, na verdade, Ele era o Esperado – e se enchem, Senhor, de espanto
                                                                                                 [e de silêncio.


EMÍLIO MOURA: POEMA


(Paul Gauguin)
 
 
 

SÚPLICA
 
 
Porque chamais: Senhor, Senhor...e
não fazeis o que eu digo?
 
(Lc. 6,46)
 
 
Os inquietos, os loucos, os que ainda não Te descobriram, e os que nada
                                                                                                [compreendem,
os que pararam, e os que jamais tentaram a grande jornada,
todos eles. Senhor, estão comigo neste momento.
 
Comigo estão todos os que perderam a grande partida.
Comigo estão, Senhor, todos os que Te deixaram,
e os que não souberam buscar-Te.
Comigo estão os que não Te amam, nem Te compreendem,
os que Te negam, porque são felizes,
e os que Te negam, porque são infelizes.
Senhor, todos eles estão, agora, em minha insônia e em minha desolação,
            [como a presença da morte está na máscara dos que nada esperam.
Mata-os em mim, Senhor.