(Bouguereau)
Três sonetes
I
Teu nome nasce em grito no meu peito
Sobe em soluço da garganta à boca
e sai do lábio já num ai desfeito
No espaço, a voz se faz lamentação;
em teu ouvido é uma palavra rouca
e esvai-se em pranto no teu coração
Num sopro débil lentamente desce,
quase em surdina no teu sangue escorre,
ganha teu seio transformado em prece,
chega em tua alma num suspiro e morre.
II
Glória de ser aquele que te afaga!
Há carícias de mar em teu desejo
e há no teu beijo um soluçar de vaga.
Glória de ser alguém que te repele:
há suplícios de sangue no teu beijo
e há volúpias de mágoa em tua pele.
E glória de ser mesmo o que não toca,
o que em sonhar-te apenas se resume,
que a vida nasce dessa tua boca
e a morte chega nesse teu perfume.
III
Nas sombras o teu corpo palpitava...
Havia nessa espera a inquietação
do pássaro ferido que esperava.
Sem ver-te, a minha mão avança e desce;
a carne adivinhando o gesto, e a mão
bem antes de tocá-la se estremece.
Pousa na morna ondulação do busto,
corre e vacila, espera e freme, e roda
pelo teu dorso, já desliza, e em susto
te encontra toda e te ilumina toda.
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