sexta-feira, 25 de maio de 2012

IVO BARROSO: POEMA


(Bouguereau)


Três sonetes


I

Teu nome nasce em grito no meu peito

Sobe em soluço da garganta à boca
e sai do lábio já num ai desfeito

No espaço, a voz se faz lamentação;
em teu ouvido é uma palavra rouca
e esvai-se em pranto no teu coração

Num sopro débil lentamente desce,
quase em surdina no teu sangue escorre,
ganha teu seio transformado em prece,
chega em tua alma num suspiro e morre.


II

Glória de ser aquele que te afaga!

Há carícias de mar em teu desejo
e há no teu beijo um soluçar de vaga.

Glória de ser alguém que te repele:
há suplícios de sangue no teu beijo
e há volúpias de mágoa em tua pele.

E glória de ser mesmo o que não toca,
o que em sonhar-te apenas se resume,
que a vida nasce dessa tua boca
e a morte chega nesse teu perfume.


III

Nas sombras o teu corpo palpitava...

Havia nessa espera a inquietação
do pássaro ferido que esperava.

Sem ver-te, a minha mão avança e desce;
a carne adivinhando o gesto, e a mão
bem antes de tocá-la se estremece.

Pousa na morna ondulação do busto,
corre e vacila, espera e freme, e roda
pelo teu dorso, já desliza, e em susto
te encontra toda e te ilumina toda.


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