sexta-feira, 29 de junho de 2012

FLORISVALDO MATTOS: POEMA


(Edgar Degas)


PASSOS E ACENOS


Nada tens de ave. Fera lúcida, olho
felino (pantera de Rilke entre grades),
nunca indefesa, à espreita. Além dos olhos,
bebo teu corpo, teu cabelo (franja
dos dias) – o mais dardeja. Também és
elástica e macia: braço, pernas
de roliça cogitação. Vais, vens.
De pé, agitas os vaporosos membros,
ao calor da voz que atordoa o vento.
Sentada, as formas se acomodam, urdem
rútilo desenho. É quando, pasmo, ouço
o marulho do sexo ávido. Bem
que mereço essa onda, ronda de garras
que me acenam, me buscam pela tarde.


Do livro Poesia reunida e inéditos. Ed. Escrituras.





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