(Edgar Degas)
PASSOS E ACENOS
Nada tens de ave. Fera lúcida,
olho
felino (pantera de Rilke entre
grades),
nunca indefesa, à espreita. Além
dos olhos,
bebo teu corpo, teu cabelo
(franja
dos dias) – o mais dardeja.
Também és
elástica e macia: braço, pernas
de roliça cogitação. Vais, vens.
De pé, agitas os vaporosos
membros,
ao calor da voz que atordoa o
vento.
Sentada, as formas se acomodam,
urdem
rútilo desenho. É quando, pasmo,
ouço
o marulho do sexo ávido. Bem
que mereço essa onda, ronda de
garras
que me acenam, me buscam pela
tarde.
Do livro Poesia reunida e
inéditos. Ed. Escrituras.
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