IVO
BARROSO nasceu em Ervália-MG e reside
no Rio desde 1945. Formado em Direito e em Línguas e Literaturas Neolatinas.
Foi assistente do Editor das enciclopédias Delta-Larousse, Mirador e Século XX.
Editor-adjunto do Suplemento Literário do JB, da revista Senhor e de Poesia
Sempre (da Biblioteca Nacional). Publicou mais de 30 traduções de grandes
autores entre romancistas como Hermann Hesse, Georges Perec e Jane Austen, e
poetas como William Shakespeare, T.S. Eliot, William Blake e Arthur Rimbaud. Seus
livros de versos, Nau dos Náufragos (1982) e Visitações de Alcipe (1991), foram
ambos editados em Portugal, onde foi editor da revista Seleções do Reader´s
Digest. No Brasil publicou A Caça Virtual e outros poemas (2001, finalista do
prêmio Jabuti de poesia daquele ano), editado pela Record. Organizou os livros
Poesia e Prosa, de Charles Baudelaire (Nova Aguilar, 1995) e À Margem das
Traduções, de Agenor Soares de Moura (Arx Editora, 2003). Escreveu O Corvo e
suas traduções (Nova Aguilar, 2000 – agora em 3ª edição, 2012, pela LeYa-SP) e
Poesia Ensinada aos Jovens (Tessitura-BH, 2010).
O Tesouro da Juventude.
2) – Como você vê a cena literária – prosa e poesia - contemporânea no Brasil?
2) – Como você vê a cena literária – prosa e poesia - contemporânea no Brasil?
Muita publicação, pouca qualidade.
3) –
Como você vê a relação entre Tradição e movimentos de vanguarda, sejam eles no âmbito da literatura – prosa e poesia, música ou artes
plásticas? É possível diálogo entre a Tradição e as vanguardas, ou uma
obra de invenção deve ser necessariamente uma obra de ruptura?
A vanguarda de hoje será a tradição de amanhã.
4) – Como você vê a importância dos
movimentos Modernista de 22 e do Concretismo para o desenvolvimento da
literatura brasileira e seu suposto endeusamento quanto aos aspectos positivos?
Não estaríamos em tempo de crítica avaliativa sobre a verdadeira contribuição
desses movimentos e seus prejuízos em relação às estéticas do romantismo,
simbolismo e parnasianismo para a literatura brasileira?
O movimento modernista marcou de certa forma a literatura
brasileira, passamos a escrever à moderna ou à antiga. O concretismo não chegou
a ser um movimento. Foguete coreano que cai apagado no quintal. Não há hoje
rigorosamente ninguém no mundo inteiro escrevendo poesia concreta.
5) – O crítico literário Antônio
Cândido, afirmou que todo país possuiria um representante máximo de sua
literatura, um escritor que encarnasse a identidade cultural de seu país,
sobretudo no âmbito da linguagem, e citou como exemplos nomes como Cervantes na
Espanha, Goethe na Alemanha, Dante na Itália, Borges na Argentina, Camões em
Portugal. O mesmo afirmou que o Brasil não possuiria essa figura máxima em sua
literatura, talvez dois nomes, Guimarães Rosa e Machado de Assis. Qual sua
opinião sobre essa questão? O que pensar de um nome como o padre Antonio
Vieira?
Sou mais o Machado. Rosa está deixando de ser lido e Vieira
na verdade nunca foi.
6) – Quais são os desafios,
especificações e diferenças quanto a tradução de obras em prosa e poesia?
Quanto ao condicionamento ético a observar (fidelidade ao
texto, correção vocabular, configuração estilística, etc), não há rigorosamente
diferenças entre traduzir prosa ou poesia. Para esta última, no entanto, são
requeridas algumas condições especiais do tradutor: em primeiro lugar, que seja
poeta, que conheça os mais diversos estilos poéticos, a técnica do verso –
mesmo quando se tratar da tradução de versos livres). Não consigo imaginar a
tradução de um poema feita por alguém que nunca tenha escrito poesia. O resultado
será necessariamente prosaico.
7) – Como você vê a relação entre obras
traduzidas de outro idioma, sobretudo grandes clássicos da prosa e poesia, e
sua importância para o crescimento cultural de um país ao tornar acessível
essas obras ao leitor que não domina o idioma original?
Há pelo menos uma dúzia de frases consagradas sobre a
importância da tradução no relacionamento cultural dos povos. A tradução como
ponte... como passaporte... etc. Sem essas transposições a literatura de um
país ficaria restrita à sua produção nacional, que necessariamente não contém a
variedade nem a abrangência do conjunto das demais literaturas. Nunca me
espanto com o número esmagador de obras estrangeiras traduzidas em relação às
publicadas, no mesmo período, por nossos autores. O excesso é sempre benéfico:
no meio do lixão importado vem sempre alguma coisa que serve de estímulo ao
conhecimento e à produção locais.
8) – Como tradutor, quais são os
escritores mais complexos em termos lingüísticos e temáticos que você traduziu?
A vida, modo de usar, de Georges Perec,
pela sua variedade estilística, abrangência de assuntos, vocabulário concreto
foi uma tradução –digamos – trabalhosa. Já traduzir Rimbaud, exigiu a permanência num estado de expectativa poética,
principalmente quanto As
iluminações, onde qualquer vacilo elimina ou amortece o impacto fraseológico e
a vibração sensorial do texto.
9) – Dois grandes poetas franceses estão
traduzidos em nosso idioma, Rimbaud, em tradução de sua autoria, e Baudelaire, em tradução de
Ivan Junqueira. Qual a importância da presença desses escritores para nossa
literatura?
Não só a de Baudelaire e Rimbaud, mas a presença de qualquer grande criador é
imprescindível para a literatura como um todo. A obra deles se torna patrimônio
comum através da tradução. Daí a universalidade de um Shakespeare, de um Dante,
de um Victor Hugo.
10) – Também dispomos da obra completa
do poeta T.S. Eliot em nosso idioma, cuja poesia foi traduzida por Ivan
Junqueira, e o teatro traduzido por você. Qual a importância da presença desse
escritor para nossa literatura?
Eliot pode ser considerado um desses expoentes de nosso
tempo. O mesmo se dá com Joyce. Cada vez mais são traduzidos em todos as
línguas, deixando de ser escritores de língua inglesa para se tornarem ícones
universais.
11) – Comente sobre seu último livro
intitulado O Corvo e suas traduções, de Edgar Allan Poe.
Trata-se de um livrinho sem maiores pretensões, não chega a
ser um ensaio. Mas uma tentativa de provar criticamente e divulgar a tradução
de O Corvo, de Edgar Allan Poe, feita por Milton Amado, um quase desconhecido,
como sendo a interpretação mais adequada do poema, já tratado por vários outros
tradutores.Mais que um problema de fidelidade é um caso de adequabilidade, de afinação instrumental.
12) – Em termos de tradução, parece
existir em nosso país duas vertentes, a “transcriação”elaborada pelos concretistas Haroldo de Campos, Augusto de
Campos, Décio Pignatari e alguns de seus discípulos como José Paulo Paes ou
mesmo Nelson Ascher, e uma tradução em muitos aspectos
entendida como“Tradicional”, supostamente representada por Ivo Barroso, Ivan
Junqueira e o falecido poeta Péricles Eugênio da Silva Ramos. Como você vê essa
questão?
Para evitar qualquer mal-entendido, declaro desde logo que
considero os irmãos Campos os maiores e melhores tradutores de poesia entre
nós, pelos desafios que enfrentaram. Já disse que a Universidade de São Paulo
devia recolher a obra deles num volume e distribuir a todos os tradutores de
poesia.
Por outro lado, não vejo a existência de tais vertentes, ou
qualquer conflito no que fazem os tradutores de poesia. O que alguns chamam de “transcriação” para mim é simplesmente “tradução”, ou seja, a tradução
integral com observância da forma, do estilo, dos recursos, da qualidade poética.
Sou contra a intromissão do tradutor na obra traduzida, seja para
“melhorá-la”,atualizá-la, ou facilitá-la. O tradutor deve transladar o que está
escrito e da forma como foi escrito – mantendo, evidentemente, o teor poético,
mas não fazer um outro poema em cima do original. Queremos o autor (ou a sombra
do) autor e não a pessoa que o traduz. Daí não fazer sentido falar em tradução
de vanguarda e tradução tradicional: o que há é boa ou má tradução – e ponto.
13) – Comente sobre sua poesia e a
possibilidade de um livro novo de poemas de sua autoria.
Em 2001 reuni tudo que me pareceu válido (digno de ser
publicado) de minha produção autônoma, sem preocupações com épocas ou estilos,
e fiz uma espécie de antologia (A Caça Virtual e outros poemas) que era, ao mesmo
tempo, meu livro de estréia.
Minha produção atual é muito escassa, mas recolho os versos para um (pouco)
provável segundo livro, este certamente conservando uma certa unidade, já que
os poemas serão da mesma
época (atual). Mas não me importo de passar como autor de um único livro de
versos. Tenho boas companhias.
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