terça-feira, 26 de junho de 2012

IVAN JUNQUEIRA: POEMA





ELOGIO DE PLÍNIO



Nem um dia sem uma linha,

como se impunha o jovem Plínio

naquela Roma em que morria

o último estilo latino,

o da eloqüência bem nutrida

de que os escribas se serviam

em seus pedestres panegíricos.

Mas nem tanto. A lição de Plínio,

que se segue às de Horácio e Ovídio,

cujo estro se embebe em Virgílio,

já não é mais a do elogio,

e sim a do áspero exercício

da língua, do ritmo, da rima,

de tudo a que não renunciam

a fúria e o som da poesia.

Nem um dia sem uma linha,

sem uma dor, uma alegria,

sem um pensamento erradio

daquela vã filosofia

que se move em nós, escondida,

e faz da existência esse enigma

que é não termos princípio ou fim

e até mesmo nenhum sentido.





Do livro O outro lado. Ed. Record.




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