(Jean Delville)
I
Posso me julgar festivo – relego à morte toda a
minha loucura. Através dela pude ver anjos e crianças cantando no céu.
Ergo-me novamente... danço como o cordeiro mais
dócil a contemplar com olhos marejados a fímbria de uma eternidade lancetada –
mas não me juntarei, no regaço das foscas quimeras, às orgias de meus impérios
abjurados. Quimeras! Bisbilhotei por entre sebes enevoadas o segredo que
guardam os bailes de todo prisma juvenil... com quanta superfluidade posso hoje
admirar-me, ó reflexos na lua morna derreados!
Eu vejo tudo, a claridade daquela longínqua
esfera em que se ensarilhavam, antigamente, o amor e o ódio, permitem-me
efetuar o austero vislumbre – passearei por bosques nevados, adornarei fachadas
com lantejoulas bulbosas, espera-me a idéia mais fugaz acerca da vida...
degradado! Feliz e desgostoso! Ah, canalha mundial, não perdeis sequer uma
oportunidade por me ver sorridente em meio a alamedas ociosas!Pois me vereis,
então! Tais frêmitos súbitos hão de escorraçar a tonteira que habita infinda em
minha coragem. Farei monstros semelhantes a meu espírito. Eu – monstro! Que me
esfacele! Raça, ó raça – eis aqui um palhaço. Não haverei de vangloriar-me de
minhas proezas cruéis? Conheço as ruas da miséria e
da desgraça, pois me fora dado um estigma: fazer soçobrar acima delas seus
filhos incógnitos. Palmilhei-as com olhos de tigre, labaredas
patriarcais nos pulsos, cotovelos em riste; estendi a mão aos facínoras e
desgraçados, ninei suas crianças imundas – e assim tornei-me um monstro.
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