terça-feira, 17 de julho de 2012

A PUNIÇÃO DOS DEMÔNIOS




Assim como o ferro sai queimando da forma totalmente branco e em brasa, aquecendo o ar e tudo o que toca, da mesma forma, e muito mais fortemente, existe pena e malícia nos demônios, que são objetos dos atos de suas potências. Pois assim como o fogo, a água, o ar e a terra contrastam-se por corrupção nos corpos do homem doente ou morto, da mesma forma, e muito mais, contrastam-se a memória, o entendimento e a vontade no demônio, e em tal contraste existe paixão em toda aquela entidade, que supõe tudo o que sua memória lembra, seu entendimento entende e sua vontade odeia. Logo, como sua memória lembra, seu entendimento entende e sua vontade desama tantos objetos, quem pode considerar esta pena? E quem pode considerar o tempo sem fim que convém àquela pena durar incessantemente?

A pena espiritual é amar o mal em seu inimigo e saber existir naquele um grande bem, e também querer multiplicar o mal onde está multiplicado o bem. Os demônios têm esta pena, porque desamam todo o bem nos anjos benignos e nos homens justos. Por isso, têm pena, porque os desamam no bem e os amam no mal. Tal pena existe pela segunda intenção pois eles foram criados para que pela segunda intenção amassem-nos e pela primeira intenção amassem a Deus.

Os demônios têm pena pelo mal que os homens pecadores cometem, pois desejariam que tal mal fosse maior. E como o entendimento entende que quanto maior mal faz o demônio, mais cresce sua pena pela Justiça. Por isso, pela pena, sua vontade deseja fazer o mal, têm pena pelo mal não ser maior, porque seu entendimento entende o mal e porque não entende uma mal maior. Logo, como isso é uma pena tão grande, falta contar o trabalho que os demônios sustentam e que são contrários à Justiça de Deus.



Ramon Llull. O Livro dos Anjos. Trad. Eliane Ventorim e Prof. Dr. Ricardo Costa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário