segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

ROLAND BARTHES: A MÁXIMA

(Malevich)



A máxima é um objeto duro, luzidio – e frágil – como o corselete de um inseto; como o inseto também, possui o ferrão, o gancho de palavras agudas que terminam, a coroam – a fecham ao mesmo tempo que a armam (ela é armada porque é fechada). De que é feita essa estrutura? De alguns elementos estáveis, perfeitamente independentes da gramática, unidos por uma relação fixa que, tampouco esta, nada deve à sintaxe. Não somente a máxima é uma proposição cortada do discurso, mas, no interior dessa mesma proposição, reina ainda um descontínuo mais sutil; uma frase normal, uma frase falada tende sempre a fundir as suas partes umas nas outras, a equalizar o fluxo do pensamento; ela progride em suma segundo um devir aparentemente desorganizado; na máxima é tudo ao contrário; a máxima é um bloco geral composto de blocos particulares; a ossatura – e os ossos são coisas duras – é mais do que aparente: espetacular. Toda a estrutura da máxima é visível, na medida mesma em que é errática.

Roland Barthes, O grau zero da escrita. Ed. Martins Fontes

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