(Piero Dorazio)
Paisagem Marítima
Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular..."
T. S. Elliot
I
Os sudários do Sol eunuco
fertilizam as águas
das sombras profanadas
pela luz do imenso declínio.
O esplendido teatro interior
nos saltos transparentes da paisagem.
O grito agônico da treva
no instante do enigma,
cortado pelo canto infinito de uma gaivota.
No cais,
o baile emaranhado de redes e pescados
sacraliza a idade incongruente do esquecimento.
Mesmo que os Salmos da manhã
desvelem a dobra do inferno
nos cabelos das mulheres loucas.
Enquanto a areia movediça da visão
joga seus dardos
ao redor do arco das cotovias.
No vagar arcaico das crianças na areia,
no tombo algébrico e eterno dos peixes,
o mais perverso sacrilégio,
enraizado no vento,
torna-se música
tocada pelos dedos
de infindáveis labirintos.
Um entre-
ato de ressacas
no nascimento continuo do mundo.
Parte a caravela
rente ao sono profundo.
II
O mar tem o sexo lançado
contra o ar zodíaco dos marinheiros.
As cabeças,
nas línguas das marés,
batem nas metades
remendadas pela treva,
pelo anjo infecundo do sono.
O anzol faísca a esfinge solar
no seio do vento.
Os sepulcros do céu
pendem cegamente
sobre as ondas infindáveis,
suplicantes.
Só a morte escala,
com mãos ensurdecidas,
a criança inaugural,
o assombro maculado.
Mergulhado nessa treva inominável,
o espetáculo sufocante
da meditação marítima.
Diante da lua, diante do vício.
Até as águas se esgotarem em segredo,
na idade inimaginável do silêncio.
Santos inverno 2011
No reino crepuscular..."
T. S. Elliot
I
Os sudários do Sol eunuco
fertilizam as águas
das sombras profanadas
pela luz do imenso declínio.
O esplendido teatro interior
nos saltos transparentes da paisagem.
O grito agônico da treva
no instante do enigma,
cortado pelo canto infinito de uma gaivota.
No cais,
o baile emaranhado de redes e pescados
sacraliza a idade incongruente do esquecimento.
Mesmo que os Salmos da manhã
desvelem a dobra do inferno
nos cabelos das mulheres loucas.
Enquanto a areia movediça da visão
joga seus dardos
ao redor do arco das cotovias.
No vagar arcaico das crianças na areia,
no tombo algébrico e eterno dos peixes,
o mais perverso sacrilégio,
enraizado no vento,
torna-se música
tocada pelos dedos
de infindáveis labirintos.
Um entre-
ato de ressacas
no nascimento continuo do mundo.
Parte a caravela
rente ao sono profundo.
II
O mar tem o sexo lançado
contra o ar zodíaco dos marinheiros.
As cabeças,
nas línguas das marés,
batem nas metades
remendadas pela treva,
pelo anjo infecundo do sono.
O anzol faísca a esfinge solar
no seio do vento.
Os sepulcros do céu
pendem cegamente
sobre as ondas infindáveis,
suplicantes.
Só a morte escala,
com mãos ensurdecidas,
a criança inaugural,
o assombro maculado.
Mergulhado nessa treva inominável,
o espetáculo sufocante
da meditação marítima.
Diante da lua, diante do vício.
Até as águas se esgotarem em segredo,
na idade inimaginável do silêncio.
Santos inverno 2011
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