(Pieter Brueghel)
DEPOIS DE TER VISTO
Depois de ter visto o voo da
águia
e do albatroz
desenhando
sua fúria sobre o azul
depois de ter visto o tigre
o jaguar
e o lobo
dominarem as estações
e as armadilhas da forme
e de ver as presas
(posto que abatidas e sangrando)
heroicas renegarem seu destino
a mim me tocou
viver numa época em que miúdos
seres
rastejam sem visão no pó do
instante.
Apagaram de seus olhos
o horizonte
e não mais desatam asas sem seus
flancos.
Não sabem. Nem querem saber
que houve um tempo
em que a vida ia além
do inevitável escombro.
Comprazem-se com o espelho
estilhaçado
em miríades de miragens.
De nada adianta
se lhes trazeis notícias
de outros mundos e paisagens.
A cera nasceu-lhes nos ouvidos
apenas suas vozes estridentes
em uníssono ouvem.
Banqueteiam suas fezes em alarido
como se ouro fossem
e dançando à borda do abismo
se rejubilam
– com a
vertigem.
Sísifo desce a montanha. Ed. Rocco.
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