sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

PATRICE DE MORAES: SONETOS

(Zichy Michály)



XV

O amante que se preza como tal

trabalha o corpo amado analisando

resposta por resposta (corporal)

às perguntas que vão se processando...



Controla seu deleite pessoal

apenas com o prazer se preocupando

do corpo que conduz e pelo qual

dedica seu amar, seu estar amando...



Visita cada espaço insinuado

provando inexistir ao seu amado

qualquer indicação de preconceito.



Descansa da tarefa prazerosa

somente quando o corpo amado goza

eternidade... e após retorna ao leito.



XII

O corpo funde o corpo, funde tudo.

Funde inclusive a mente — o corpo funde.

Seu elevar de si em tom agudo

com a alma muitas vezes se confunde.



Reparo a fundição e fico mudo,

participando inteiro do desbunde

imposto ao meu perímetro. Contudo,

impeço que a inconsciência o estrague, o afunde.



Que força, que energia o corpo tem

principalmente quando o vai-e-vem

é ritmo que propõe libertação.



Quem sabe é a energia destinada

a dar a morte, sempre consagrada,

ao matrimônio com a ressurreição.




Um comentário:

  1. Sem se importar em florear de prosaísmo a sua poesia no mesmo tempo que se mostra profundamente preocupado com o apuro formal e a cadência rítmica de seu poema, Patrice de Moraes não almeja a nada mais o que ser poeta, não representando nada mais do que uma etapa superior da poesia de um homem que domina inteiramente os mecanismos de expressão. Não restam dúvidas de que Patrice de Moraes pode planejar o poema e fazê-lo da maneira que ele bem entenda, mas sempre como um artista, como um criador, nunca como um artífice, um mero construtor, um simples “imendador” de artifícios. O mundo refletido em sua poesia é sempre um mundo real, um mundo que parece “saltar para a vida” ao invés de se afogar em ideais vazios, de uma simbologia que parece querer mais fugir as coisas do que a elas servir. Esta penetração (palavra complicada para quem se arrisca a analisar um poeta do erotismo) que Patrice faz na realidade, é algo que é feito por todo grande escritor e o bardo conjacuipense não me parece uma exceção a isto; porém, é preciso lembrar que a grande obra poética é resultado das somas entre as generalidades abstratas do pensamento e a realidade concreta do mundo; se Patrice ficasse apenas numa destas coisas, sua obra estaria longe de ser considerada uma forma de arte; como consegue unir estas duas variantes em um mesmo processo e num resultado consistente, é poeta.

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