sábado, 21 de janeiro de 2012

JEAN N. B. MOURA: POEMAS

(Gabriel Ferreira)



Saldo incógnito

Basta-nos o decréscimo de dias

de um saldo incógnito

para que passar metade

de uma vida

pensando noutra vida

alimentando-se como um glutão na confeitaria

da palavra


conclamo botar o sobrenatural nas forças dos braços

ir avante

ciente de que não estamos distante

da magnitude da flor e do cacto


Corpo vivido


O corpo vive na epiderme construída com a aridez das horas

Já passaram muitas horas

estou quase vinte anos mais idoso

do que o infante que mordia tímido as palavras

para não tirar o esmalte materno dos dentes


Nada permanece em mim

que pode ser revisto e retomado

a pele das horas está anciã

as antigas meninas do jardim da infância

doravante gargalham erupção que vem debaixo

e faz espumar os seus belos e carnudos lábios.


Nada absolutamente nada

retorna inteiro ao corpo

a sobra das horas vividas

é espólio

guardada para ser saqueada

a qualquer instante na memória

Um comentário:

  1. "Nada absolutamente nada

    retorna inteiro ao corpo"
    .........................

    Muito bom!!!
    ;)

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