segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

ANDRÉIA CARVALHO: POEMA

(Hans Baldung)


anátema



não falarei caminhos para o solstício. todos caminham. nem mares equilibrados. todos velejam. meus bosques contados já se movem por si mesmos.


trincarei escalas zodiacais. subirei bem alto para o pousar sibilante. soprano astro. soprarei teus tímpanos selados. notas que me ultrapassam as vogais. lá no alto onde as fixas se aniquilam. pista giratória de nebulosas. darei três cortes em tua face dourada. enquanto me carboniza a máscara. narciso vertido em plumas de constelação violácea. exposta a medula suicida. pendulares para a terra. na inércia avessa terei asas. não para voar. para derretê-las. eclipsando o teu calor simbionte.


corpo de radiação.


descerá do teu altar infecto de diamantes. e cairá comigo. um leito de carvão uma noite e uma madrugada. um pasto leitoso escuro amargo em clarão de cordas no sono dos metais adulterados. pedra sutra. estacas musicais. missal planetário na argila. barroca mulher vestida de sol. lua na música que os anjos não ouvem. doarei tua sinastria aos morros onde a estrela mais crua entontecerá tua cantoria.


anaconda.


ergo meu dorso esteira eclipsando a letra hiperbórea de tua escrita pirofágica. teu testamento iridescente. tua casa será minha casa. tua casca será minha casca. tu te entornarás. já te disse no pio das claraboias. já te fiz levitas haleluia leão dormente leão serpente leão de judah. luz do mundo. bobina de um corpúsculo alucinógeno eriçando o cabelo icosaédrico da matemática de um poema concreto.


evoé. como te direi?

à penas:

sol.

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