CARTA
Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias
(tão leves) que fazias em meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.
É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.
A prova de que Drummond não desprezava a tradição.
ResponderExcluirlisongeada de estar aqui junto a Drummond e a esse blog maravilhoso :)
ResponderExcluirgrata
beijos
Adoro esses dois versos iniciais. Não é só de uma chave de ouro que devemos cuidar, o começo também merece ter glória.
ResponderExcluirBelíssimos decassílabos
Não sei se a ilustração foi feita precisamente para essa poesia ou se ela foi aproveitada. Só sei que a ilustra perfeitamente. Consegui visualizar o eu-lírico da carta escrevendo-a, imerso em sua solidão, dentro da casa.
ResponderExcluirPrezado Paulo, os desenhos da Luiza são repletos de sentimento e beleza. Pode-se sentir todo o intimismo da desenhista. E esse poema é realmente maravilhoso. Um abraço.
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