sábado, 8 de janeiro de 2011

ILONA BASTOS: POEMA



A CHUVA


Este som, leve e metálico,
Da chuva que bate nos vidros,
Acaba por ser gentil…
Mesmo quando o seu toque se acelera,
Ou se retarda em singulares gotas,
Ou quando o vento sopra, em sonantes rajadas,
Ou, sonolento, se esparsa, quase se apaga,
Na inércia cinza da paisagem.

É fresca, esta chuva!
Como a ouço, talvez brejeira,
Não indelicada…
Deixou exultantes as flores vermelhas
Daquela exótica planta do jardim fronteiro,
De que não conheço o nome nem o apelido.
Garota, foge ao ritmo agora, insistente,
Esparrinha o tecto da marquise, desafiante…

As nuvens escuras avançam com rapidez!

Sente-se a chuva protegida, e precipita-se
Com violência implícita,
Tão distante da delicadeza inicial.
Rufia, já não soa a música,
Como anunciara à chegada,
Agreste, não poupa os tons, as linhas,
Os traços, as cores, os vultos
Desta cidade, que se afunda no temporal…

Um comentário:

  1. Há chuva assim; aparente, traços suaves que traduzem uma verticalidade transparente, uma certa inclinação que nos lembra o vento, a dúvida e a certeza da inconstância segura e da insegurança da própria chuva!... Porque, afinal, o trajecto dela, a chuva, não depende apenas dela própria, mas de vários Destinos!... A Chuva que não nos molha é a mesma que nos pode molhar, assim o queiramos, assim queiramos ser apanhados desprevenidos... atrás do vidro transparente onde fortes gotas escorrem enquano nos olham!... E nem lhes tocamos, apenas as vemos desaparecer, formar pequenos riachos que desaparecem na verticalidade da parede!... Asssim na Cidade quanto no Campo, porque, no Campo, também há os mesmos olhares atrás de um qualquer vidro transparente fixado na verticalidade do que somos, de nossa nostalgia que dormita no embalo de Chuva leve e serena!... às vezes um trovão, castiga a núvem e lembra a chuva da força necessária e da pressa em forma de castigo; da quebra da nostalgia!... E a vida continua!



    Abraço

    ResponderExcluir