quinta-feira, 18 de novembro de 2010

POEMA

(Tàpies)



CHUVA

ouvir a chuva
silenciar palavras
recolher sobras
diárias
da convulsão
humana

sentir a chuva
aproximar pessoas
acolher o tempo
desigual
endêmico

lavar as mãos
de quem só soube tê-las

fechadas

8 comentários:

  1. Talvez sejam mesmo as sobras do sentir diário e o sentimento de impotencia diante do "tempo desigual", a matéria prima com que são feitos os poemas. Que poema, Hilton! Muito, muito bom. Abraço.

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  2. Nydia, que leitura atenta! Olhar minimalista que sempre está presente na sua poesia. Esse poema já é antigo, mas um dos meus favoritos. Um abraço.

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  3. Amigo Hilton,
    A sua sensibilidade poética e a capacidade de trabalhar com a palavra me encantam. Ao ler o seu belo e dolorido poema "CHUVA", lembrei-me da viagem de Basho para apreciar a lua durante a VISITA AO SANTUÁRIO DE KASHIMA. Chovia e o companheiro de caminhada Soha escreveu o haicai

    como é solitária a lua
    ao som do gotejar
    da calha do templo

    O seu poema traz essa solidão que promove transformação, até lavando mãos que só aprenderam a viver fechadas. Essa leitura que você faz do tempo, encontrando silêncio, mesmo na "convulsão humana", diz da sua profunda capacidade de sentir o ambiente. O mais encantador é que você nos ajuda a continuar enxergando de onde deixou a provocação. Parabéns, amigo Hilton, aliás, obrigado.
    Um forte abraço,
    Cloves Marques

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  4. a poesia tem isso de lavar as mãos de quem - belíssimo

    beijo

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  5. Um poema muito belo, na simultânea simplicidade e complexidade da forma e das ideias. Três gotas, trinta palavras e, nelas, poeticamente sintetizadas, a condição humana e a chuva, numa interacção tranquilizadora, agregadora, purificadora... Belíssimo poema! Um abraço, Ilona

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  6. descem as chuvas, vêm desde as nuvens, lavar os campos e desenganos...

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  7. Prezado Joseph, que sua presença seja constante nesse espaço literário! Seja bem vindo! Um abraço!

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