NEVOEIRO
Ilona Bastos
Lembrando uma paisagem escandinava
Desenham-se, além dos vidros da janela,
Os traços suaves dos ramos de pinheiro,
Esbatidas manchas de quadro em aguarela,
Por entre o esbranquiçado frio do nevoeiro.
Também, mais próxima, desmaiada, a relva
Se distancia, neutra, na densa neblina,
E o fundo baço, que esconde o arvoredo,
Envolve o céu e a vida em leve musselina.
Só um vulto, esbelto, vem descendo, ledo,
A longa escadaria, que o nevoeiro adoça,
E uma gaivota livre, de asas prateadas,
Planando baixo, os seus cabelos roça.
Agora, vejo as nuvens, rasas e molhadas,
Correrem, junto à erva, em desfilada,
Afugentando o véu, os seres, a quieta paz
Desta atmosfera idílica, encantada.
Soprando velozmente, vem o vento e faz,
Agreste, forte, intenso, espantar a magia
Do nevoeiro imenso, prenhe de mistério,
Que a manhã cobriu, neste invernoso dia.
Então, no céu, o azul retoma o seu império,
O sol inunda a relva, a rua, todo o parque,
Regressam vozes, passos, gente radiosa,
Da vida, a cor, o brilho, a infinita arte...
E, na transparência pura, gloriosa,
Desta pintura bela, perfeita em limpidez,
Na Natureza rica, na vívida Criação,
Esboça-se, com espantosa nitidez,
A imagem de Deus - sublime revelação!
NA ESPLANADA
Ilona Bastos
Nestes dias frios e ensolarados,
Ruas e rossios de Inverno pintados,
Enchem-se esplanadas de quentes roupagens,
Sempre renovadas antigas imagens.
Como em tempos idos, há cabeças brancas,
Senhoras idosas de gestos pausados,
Há conversas longas e faces atentas,
Até mantas grossas de lã aos quadrados,
Que lembram convés, cadeiras de lona,
Balanço do mar que em sonho retorna.
Como antigamente, há lindos meninos,
Belos caracóis, passos pequeninos.
Há bolas e carros, e o cão a ladrar.
Torradas no prato, leite a fumegar,
E água a luzir, fresca, transparente,
No centro da mesa, estrela refulgente.
Há os cavalheiros, tal como era dantes,
Lendo os seus jornais com toda a atenção.
De lápis na mão, jovens estudantes
Livros sublinham com sofreguidão.
Sábias teorias têm de estudar,
Para um dia o Mundo poderem salvar.
Neste dia frio, mas ensolarado,
Rua e rossio olho com agrado.
Vejo, de repente, parando a sorrir,
Passado e Presente, Futuro a florir.
O TEMPO
Ilona Bastos
Quando voltará o tempo
a estender-se a nossos pés
como uma planície verdejante?
Que saudades das tardes imensas,
infinitas, em que brincávamos,
corríamos, descansávamos
e líamos, horas a fio,
esses romances que nos enchiam a alma
e que em nós se tornaram!
Durmo demais ou de menos?
Sou lenta ou, antes,
apressada em demasia?
Manhãs e tardes esfumam-se
na voragem do dia-a-dia…
Nervosamente antecipo o pôr-do-sol,
enquanto percorro este labirinto
feito de momentos compartimentados,
intercalados por corredores
apinhados de ânsias e temores,
que são o meu tempo de hoje.
Sonho com o regresso do tempo infindo,
em que o corpo voltará a correr livre,
como criança, e o espírito, ousado,
voará mais alto do que nunca!
Tanto desejo esse tempo!
Tanto planeio criar
nessa planície verdejante!
Caiam paredes!
Dilate-se o espaço!
Germinem sementes!
Estenda-se a nossos pés
a imensidão do tempo!
NAS MALHAS DO TEMPO
Ilona Bastos
Atrapalho-me nas malhas do tempo.
Quanto mais tento detê-lo,
Mais me prende o tempo a mim,
Na lentidão que aos meus gestos dá,
Na confusão que ao pensamento doa.
E, assim, tropeço nas horas e nos minutos,
Enquanto o tempo, trocista, sorri,
Célere avança e se afasta, jocoso,
Acenando de longe, provocador,
Sempre seguindo o seu caminho.
Caio em desespero, olho o relógio,
E os ponteiros que lestos se aproveitam
Da distracção do meu escrever,
Para saltar, ágeis, no mostrador
Da vida levando, de assentada,
Luminosas porções de tempo perdido.
Hesitante, paro, num repente,
Sem saber se dar ouvidos à voz troante
Que no interior de mim ecoa, persistente
Em deslizar-me pelo braço, até à mão
Que segura a caneta e a faz correr
E patinar, dançando, sobre o papel.
Não! Tenho de sair e seguir o meu percurso,
Mesmo se o tempo se entretém
A trocar-me as voltas e a rir, escarninho,
Perante o torpor dos meus gestos indecisos,
E a inconstância do meu pensar,
Perdida que estou nas malhas do tempo.
Ilona Bastos
Lembrando uma paisagem escandinava
Desenham-se, além dos vidros da janela,
Os traços suaves dos ramos de pinheiro,
Esbatidas manchas de quadro em aguarela,
Por entre o esbranquiçado frio do nevoeiro.
Também, mais próxima, desmaiada, a relva
Se distancia, neutra, na densa neblina,
E o fundo baço, que esconde o arvoredo,
Envolve o céu e a vida em leve musselina.
Só um vulto, esbelto, vem descendo, ledo,
A longa escadaria, que o nevoeiro adoça,
E uma gaivota livre, de asas prateadas,
Planando baixo, os seus cabelos roça.
Agora, vejo as nuvens, rasas e molhadas,
Correrem, junto à erva, em desfilada,
Afugentando o véu, os seres, a quieta paz
Desta atmosfera idílica, encantada.
Soprando velozmente, vem o vento e faz,
Agreste, forte, intenso, espantar a magia
Do nevoeiro imenso, prenhe de mistério,
Que a manhã cobriu, neste invernoso dia.
Então, no céu, o azul retoma o seu império,
O sol inunda a relva, a rua, todo o parque,
Regressam vozes, passos, gente radiosa,
Da vida, a cor, o brilho, a infinita arte...
E, na transparência pura, gloriosa,
Desta pintura bela, perfeita em limpidez,
Na Natureza rica, na vívida Criação,
Esboça-se, com espantosa nitidez,
A imagem de Deus - sublime revelação!
NA ESPLANADA
Ilona Bastos
Nestes dias frios e ensolarados,
Ruas e rossios de Inverno pintados,
Enchem-se esplanadas de quentes roupagens,
Sempre renovadas antigas imagens.
Como em tempos idos, há cabeças brancas,
Senhoras idosas de gestos pausados,
Há conversas longas e faces atentas,
Até mantas grossas de lã aos quadrados,
Que lembram convés, cadeiras de lona,
Balanço do mar que em sonho retorna.
Como antigamente, há lindos meninos,
Belos caracóis, passos pequeninos.
Há bolas e carros, e o cão a ladrar.
Torradas no prato, leite a fumegar,
E água a luzir, fresca, transparente,
No centro da mesa, estrela refulgente.
Há os cavalheiros, tal como era dantes,
Lendo os seus jornais com toda a atenção.
De lápis na mão, jovens estudantes
Livros sublinham com sofreguidão.
Sábias teorias têm de estudar,
Para um dia o Mundo poderem salvar.
Neste dia frio, mas ensolarado,
Rua e rossio olho com agrado.
Vejo, de repente, parando a sorrir,
Passado e Presente, Futuro a florir.
O TEMPO
Ilona Bastos
Quando voltará o tempo
a estender-se a nossos pés
como uma planície verdejante?
Que saudades das tardes imensas,
infinitas, em que brincávamos,
corríamos, descansávamos
e líamos, horas a fio,
esses romances que nos enchiam a alma
e que em nós se tornaram!
Durmo demais ou de menos?
Sou lenta ou, antes,
apressada em demasia?
Manhãs e tardes esfumam-se
na voragem do dia-a-dia…
Nervosamente antecipo o pôr-do-sol,
enquanto percorro este labirinto
feito de momentos compartimentados,
intercalados por corredores
apinhados de ânsias e temores,
que são o meu tempo de hoje.
Sonho com o regresso do tempo infindo,
em que o corpo voltará a correr livre,
como criança, e o espírito, ousado,
voará mais alto do que nunca!
Tanto desejo esse tempo!
Tanto planeio criar
nessa planície verdejante!
Caiam paredes!
Dilate-se o espaço!
Germinem sementes!
Estenda-se a nossos pés
a imensidão do tempo!
NAS MALHAS DO TEMPO
Ilona Bastos
Atrapalho-me nas malhas do tempo.
Quanto mais tento detê-lo,
Mais me prende o tempo a mim,
Na lentidão que aos meus gestos dá,
Na confusão que ao pensamento doa.
E, assim, tropeço nas horas e nos minutos,
Enquanto o tempo, trocista, sorri,
Célere avança e se afasta, jocoso,
Acenando de longe, provocador,
Sempre seguindo o seu caminho.
Caio em desespero, olho o relógio,
E os ponteiros que lestos se aproveitam
Da distracção do meu escrever,
Para saltar, ágeis, no mostrador
Da vida levando, de assentada,
Luminosas porções de tempo perdido.
Hesitante, paro, num repente,
Sem saber se dar ouvidos à voz troante
Que no interior de mim ecoa, persistente
Em deslizar-me pelo braço, até à mão
Que segura a caneta e a faz correr
E patinar, dançando, sobre o papel.
Não! Tenho de sair e seguir o meu percurso,
Mesmo se o tempo se entretém
A trocar-me as voltas e a rir, escarninho,
Perante o torpor dos meus gestos indecisos,
E a inconstância do meu pensar,
Perdida que estou nas malhas do tempo.
Ainda está on-line? Eu acessei o site dela. Ela nos decobriou, talvez, pelo Luso poemas. É ruim esse negócio de vc não ter msn... Faz falta! Eu tô fazendo algo q vc vai gostar!
ResponderExcluirTem novidade no PR
ResponderExcluirO raio do tempo, e das marcas!... Momentos lentos que passam, a uma velocidade enlouquecida pelo tempo que tentamos parar... e tudo que conseguimos é um olhar congelado que derrete ao primeiro olhar!... Assim, deixamo-nos cair, e fingimos que observamos as coisas dos outros... a passar!... Ali sentados!
ResponderExcluirTem aqui um espaço bastante interessante!...
ResponderExcluirBoa semana
Escolha entre... beijos e abraços
Obrigado pela visita! Volte sempre!
ResponderExcluir