sábado, 13 de novembro de 2010

CLOVES MARQUES: TANKAS

(Alexandre Cabanel)



Fazer é ato de
dor que só fere a quietude:
ré necessidade.

Sísifo proclama basta!
Se encalha na vaidade.

__________


As cartas deságuam
revoadas de punhais
– os ditos conselhos –

a quem às vezes enxerga
e nem precisa de espelhos.

__________


Há desconfiança
na pele antiga da dor.
Inventa verdade,

vara muitas paciências
essa dor que é piedade.

__________


Descansa o sagrado
entre a chama do dever
e o atroz direito.

Toma o fogo, oh, Prometeus,
e deita brasas no peito.

__________


Enfrento o processo.
Qual a forma desejada?
A do sofrimento.

Na diferença dos homens,
paradoxo é seguimento.

__________


Viver abandono
tem desinência de dor
em todo animal.

Mastiga o nada do mundo,
pois tudo mais é fatal.


Do livro Noturno - tankas da madrugada. Ed. escrituras

2 comentários:

  1. Hilton, estou lendo Noturno. Uma beleza. O trabalho de Cloves é mesmo primoroso. Os livros são lindíssimos e sua poesia emociona. Agradeço a você, por ter nos apresentado este poeta fantástico. Abraços aos dois, poetas que admiro.

    ResponderExcluir
  2. Nydia, você faz falta nesse espaço! É sempre uma grande satisfação conhecer grandes poetas e seres humanos como o Cloves e Você! Um grande abraço!

    ResponderExcluir