sexta-feira, 30 de julho de 2010

ROMMEL WERNECK: SONETOS GÓTICOS III


Ó BELA MORTE

Ó bela morte, minha namorada,
Pra uns tristeza, já pr'outros desejo...
Teu puríssimo, lindo e único beijo,
Retira a dor de um'alma atormentada.

Dispa meu luto, sinta a imaculada
Pele minha e pra mim faz um cortejo!
E então, mata-me como tanto almejo,
Converta meu terrível corpo em nada!

Leva-me para o obscuro, para o Além!
Leva-me para longe deste mundo!
Leva-me para perto de meu Deus!

Beija e morda as carnes e braços meus!
Leva-me deste mar de sangue fundo!
E livra-me de todo o Mal, Amém!


ANJO MORTO

Só e perdido na mais negra necrópole,
Encostado na cruz de um vil sepulcro,
Revelando um sorriso puro e pulcro
No mais distante ponto da metrópole.

Anjo defunto, corpo cadavérico...
Carnes magras, sublime e santo rosto,
Em que o célere tempo deixou posto
Um grito morto, um canto forte e histérico.

Apetecido, surge ele tão vivo,
Pra eu cometer meu próximo delito.
Dragão que se aproxima tão lascivo,

E me deixa perdido em mais conflito,
E crava em mim seus dentes diabólicos,
E vê graça em meus olhos melancólicos!

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