sexta-feira, 23 de julho de 2010

GUSTAVO FELICÍSSIMO: POEMA

(Ruaz)



CANTO DE ORFEU

Teu corpo delgado

possui formas feitas

para as minhas mãos.

E por ser assim

o vento traz de longe o teu cheiro,

nas nuvens o teu rosto esculpido.

É sempre assim,

desde que não estamos juntos

meus sentidos saltam

pelas janelas,

antecipam-se à minha chegada.

É sempre assim

e isso não há de mudar,

pois entre um verso e outro,

afazeres e bancos de praça,

brilha no meu horizonte

a estrela da tua imagem.

Há esse brilho

e um campo de orquídeas

que te exaltam

e te observam quando passas,

porque passas tão linda,

tão bela quanto a lua.

Ai, minha amada,

olha bem nos olhos meus,

olha e verás rastros

e riscos de fogo.

Contra a fúria das águas me lancei,

ao inferno mil vezes voltei

sem luz, sem remo ou âncora

por ouvir a voz da fantasia

e a lira que se encantou por tua face.

Toma meu braço

e a majestade do verso,

eis tudo que te ofereço;

restituiremos à serpente o seu veneno

e a magia da poesia aos que não amam.

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