(Ruaz)
CANTO DE ORFEU
Teu corpo delgado
possui formas feitas
para as minhas mãos.
E por ser assim
o vento traz de longe o teu cheiro,
nas nuvens o teu rosto esculpido.
É sempre assim,
desde que não estamos juntos
meus sentidos saltam
pelas janelas,
antecipam-se à minha chegada.
É sempre assim
e isso não há de mudar,
pois entre um verso e outro,
afazeres e bancos de praça,
brilha no meu horizonte
a estrela da tua imagem.
Há esse brilho
e um campo de orquídeas
que te exaltam
e te observam quando passas,
porque passas tão linda,
tão bela quanto a lua.
Ai, minha amada,
olha bem nos olhos meus,
olha e verás rastros
e riscos de fogo.
Contra a fúria das águas me lancei,
ao inferno mil vezes voltei
sem luz, sem remo ou âncora
por ouvir a voz da fantasia
e a lira que se encantou por tua face.
Toma meu braço
e a majestade do verso,
eis tudo que te ofereço;
restituiremos à serpente o seu veneno
e a magia da poesia aos que não amam.
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