quinta-feira, 15 de julho de 2010

JOHN MILTON: PARADISE LOST

(Gustave Doré)

CANTO I

Logo a monstruosa corpulência eleva
Vertical sobre o lago; as fluidas chamas,
Lançadas para trás, eis que se inclinam
Em agudos debruns de novo ao centro,
E desabando encapeladas formam
Um vale, todo horror. Abrindo as asas
Dirige para cima um leve voo,
Equilibrado em ferrugíneos ares
Que sob o peso não usual gemeram;
Depois se foi pousar na seca terra,
Se era terra o que ardia em duro fogo
Como ardia a lagoa em fogo fluido.

“Eis a região, o solo, aestância, o clima,
E o lúgubre crepúsculo por que hoje
Os Céus, a empírea luz, trocado havemos!
(O perdido anjo diz). Troque-se embora,
Já que esse, que ficou dos Céus monarca,
O que bem lhe aprouver mandar-nos pode.
É-nos melhor estar mui longe dele:
Se a sublime razão a nós o iguala,
Suprema força o põe de nós acima.

Adeus, felizes campos, onde mora
Nunca interrupta paz, júbilo eterno!
Salve, perene horror! Inferno, salve!
Recebe o novo rei cujo intelecto
Mudar não podem tempos, nem lugares;
Nesse intelecto seu, todo ele existe;
Nesse intelecto seu, ele até pode
Do Inferno Céu fazer, do Céu Inferno.

Que importa onde eu esteja, se eu o mesmo
Sempre serei, - e quanto posso, tudo?...
Tudo... menos o que é esse que os raios
Mais poderoso do que nós fizeram!
Nós ao menos aqui seremos livres,
Deus o Inferno não fez para invejá-lo;
Não quererá daqui lançar-nos fora:
Poderemos aqui reinar seguros.
Reinar é o alvo da ambição mais nobre,
Inda que seja no profundo Inferno:
Reinar no Inferno preferir nos cumpre
À vileza de ser no Céu escravos.

Tradução: Antônio José Lima Leitão

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