quarta-feira, 28 de julho de 2010

ÁLVARES DE AZEVEDO: POEMA

(Caspar David Friedrich)

CREPÚSCULO NAS MONTANHAS

I

Além serpeia o dorso pardacento
Da longa serrania,
Rubro flameia o véu sanguinolento
Da tarde na agonia.

No cinéreo vapor o céu desbota
Num azulado incerto,
No ar se afoga desmaiando a nota
Do sino do deserto...

Vim alentar meu coração saudoso
No vento das campinas,
Enquanto nesse manto lutuoso
Pálida te reclinas

E morre em teu silêncio, ó tarde bela,
Das folhas o rumor...
E late o pardo cão que os passos vela
Do tardio pastor!

II

Pálida estrela! o canto do crepúsculo
Acorda-te no céu:
Ergue-te nua na floresta morta
Do teu doirado véu!

Ergue-te!...eu vim por ti e pela tarde
Pelos campos errar,
Sentir o vento, respirando a vida
E livre suspirar.

É mais puro o perfume das montanhas
Da tarde no cair...
Quando o vento da noite agita as folhas
É doce o teu luzir!

Estrela do pastor, no véu doirado
Acorda-te na serra,
Inda mais bela no azulado fogo
Do céu da minha terra!

III

Estrela d’oiro, no purpúreo leito
Da irmã da noite, branca e peregrina
No firmamento azul derramas dia
Que as almas ilumina!

Abre o seio de pérola, transpira
Esse raio de luz que a mente inflama!
Esse raio de amor que ungiu meus lábios
No meu peito derrama!

IV

Estrelinhas azuis do céu vermelho,
Lágrimas d’oiro sobre o véu da tarde,
Que olhar celeste em pálpebra divina
Vos derramou tremendo?

Quem, à tarde, crisólitas ardentes,
Estrelas brancas, vos sagrou saudosas
Da fronte dela na azulada c’roa
Como auréola viva?

Foram anjos de amor, que vagabundos
Com saudades do céu vagam gemendo
E as lágrimas de fogo dos amores
Sobre as nuvens pranteiam?

Criaturas da sombra e do mistério,
Ou no purpúreo céu doureis a tarde,
Ou pela noite cintileis medrosas,
Estrelas, eu vos amo!

E quando, exausto o coração no peito
Do amor nas ilusões espera e dorme,
Diáfanas vinde-lhes doirar na mente
A sombra da esperança!

Oh! quando o pobre sonhador medita
Do vale fresco no orvalhado leito
Inveja às águias o perdido vôo
Para banhar-se no perfume etéreo...

E, nessa argêntea luz, no mar de amores
Onde entre sonhos e luar divino
A mão do Eterno vos lançou no espaço,
Respirar e viver!

7 comentários:

  1. Que beleza, Hilton, esta sequência de poetas românticos. Destaco a força sarcástica no poema de Junqueira Freire - de quem gosto muito. Bela seleção.
    Um abraço, amigo!
    Jefferson.

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  2. Hilton, venho lhe agradecer a gentil visita ao meu blog.

    Beijos, boa semana.

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  3. Prezada Lara, seja bem vinda ao Poesia Diversa! Que sua presença (que me honra) seja constante! Um abraço.

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  4. Amigo Jefferson, é sempre bom ler os clássicos! Um grande abraço!

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  5. Grata pela visita.
    Já vejo alguns pontos em comum...
    A epígrafe de Chesterton foi iluminadora para mim, neste momento.
    Voltarei mais vezes.
    Um abraço.

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  6. Grata pela visita.
    Gostei muito do blog.
    Voltarei mais vezes.
    Um abraço.

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  7. Lívia, volte sempre!Sua presença é satisfação! Um grande abraço!

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