sábado, 25 de dezembro de 2010

VAGNER PITTA: AVANÇOS DO JAZZ




Avanços do Jazz: da Modernidade à "Morte"

Anos 30 e ínicio dos anos 40 - Duke Ellington : Swing - Os primeiros espamos de Modernidade

Duke Ellington foi um dos primeiros grandes nomes do jazz a integrar o rol dos mestres modernos que se tornaram influências definitivas para todas as gerações subsequentes. Mestre na composição, nos arranjos e no piano, Duke já era considerado moderno mesmo nos anos 30, um gênio à frente da sua época. Numa época onde o jazz era totalmente impulsionado pelos apelos comerciais do cinema, do rádio e era essencialmente um entretenimento das elites nova-iorquinas, Duke se destacou por compôr prezando sempre a complexidade: ele escreveu alguns dos mais melodiosos temas de jazz da história, foi pioneiro por inserir o formato da suite sinfônica no jazz -- vide obras como Black Brown and Beige --, foi um dos maiores gênios do arranjo e da harmonia da história e um dos maiores bandleaderes que já se conheceu. Sua sensibilidade como compositor era tão aguçada, que ele detinha a capacidade de escrever para todos os instumentos de sua orquestra como se estivesse escrevendo um concerto para cada um deles, juntanto-os depois num arranjo coeso e brilhante, cheio de melodias lindas, efeitos de surdina, sobreposição de vozes e outros efeitos sonoros que evocam tanto a influencia urbana -- com seus barulhos de carros e trens -- como o lamento afro-americano. Conclusão: Duke Ellington, mesmo sendo da época onde o jazz era basicamente dança, se tornou uma influência definitiva para todas as gerações de pianistas, bandleaders, compositores e arranjadores que surgiriam nas décadas posteriores.

Anos 40 - Charlie Parker & Dizzy Gillespie: Bebop - a grande modernidade por pequenas formações


Nasce o chamado Jazz Moderno: Charlie Parker e Dizzy Gillespie foram os dois jovens que, recém-desempregado das suas sua respectivas orquestras, passaram a se encontrar nos spots do Harlem para participar das famosas jam sessions. As formações eram pequenas e lá duelavam entre sí, modificavam e improvisavam sobre temas já manjados e acabavam por inventar outros temas que logo formariam os standards desse novo estilo chamado Bebop. Os beboppers experimentaram diversos tipos de formações até encontrar o famoso padrão trompete+sax+piano+contrabaixo+bateria, com o qual cada instrumento teria uma maior liberdade para solar e improvisar. O pré-requisito para o estilo era ser um virtuose de mão cheia , ou seja, ser dotado de um ligeiro fraseado: tal músico que tivesse essas características e fosse excelente improvisador, esse seria um vencedor dos duelos de solos. Charlie Parker e Dizzy Gillespie foram os criadores da técnica Bebop em seus respectivos instrumentos: todos queriam improvisar e frasear tão rápido quanto eles. Ainda considerando os outros instrumentos, podemos destacar, além de Bird e Dizzy, outros grandes responsáveis para o surgimento do Bebop: Papa Jo Jones e Kenny Clarke seriam pioneiros que configuraram a linguagem Bebop para a bateria, vindo em seguida evoluir em jovens como Art Blakey e Max Roach alguns anos depois. O piano teria dois grandes representantes: Bud Powell, o grande responsável por definir o estilo pianístico da época e Thelonious Monk, um pianista que por ter estilo muito peculiar ficou esquecido como um dos grandes "pais" do novo estilo com o decorrer dos anos. Assim, dos anos 40 com o descobrimento do Bebop até hoje, tudo no jazz nada mais é do que uma variação do moderno estilo Bop, diferindo apenas em algumas características que foram aderidas ao estilo ao longo da história.


Final dos anos 40/ Começo dos anos 50 - Lennie Tristano, Miles Davis, Gil Evans, Chet Baker, Gerry Mulligan : Cool Jazz & West Coast - A predominância dos "brancos".

Não se sabe ao certo quem foi o primeiro músico que cunhou a expressão "Cool" no cenário do jazz. Mas sabe-se que já em 1947 os discos Cool Breeze de Dizzy Gillespie e Cool Blues de Charlie Parker firmavam a palavra como um termo que caracterizava o estilo mais calmo que de tocar jazz, ou seja, o estilo mais lírico, mais "cabeça fria", mais "sossegado", já que o Bebop era um estilo por demais afoito e virtuoso. Esse estilo já vinha sendo percebido nos solos de Lester Young alguns anos antes: o veterano saxtenoriza prezava as frases mais líricas, mais lentas, trabalhando mais em torno do timbre do que das frases. Foi com esse mesmo intuíto de polemizar em torno da velocidade exarcebada do bebop é que surge em Nova Iorque, em meados dos anos 40, um pianista cego com "idéias malucas": seu nome era Lennie Tristano. Suas idéias consistia em unir o jazz com aspectos da música erudita ocidental e trabalhar novas texturas sonoras mais dissociadas do aspectos africanos ou da velocidade estrutural, reformulando, assim, o Bebop que na sua visão tinha se tornado um estilo de muitas notas e pouca música. As idéias de Lennie Tristano eram tão avançadas para a época que ele foi capaz de prever a união entre o jazz e a Música Erudita Contemporânea, ou seja, Tristano, em seus comentários, já previa o encontro do jazz com elementos da vanguarda ocidental: como o atonalismo, que seria uma das bases do Free Jazz ( ou Jazz Avant-Garde) no final dos anos 60. Em suas composições, em seus conjuntos e em todas as suas concepções Lennie Tristano dispunha de vários elementos para fugir dos clichês dos beboppers: ele usava harmonias mais complexas e obrigava seus bateristas a usar mais a escovinha do que as baquetas para se obter um som mais "cool" e menos africano. Posteriormente, ele se concentrou mais na carreira de professor do que de líder de banda, dirigindo uma influente e moderna escola de onde saíram inúmeros grandes músicos como Sal Mosca, Billy Bauer, Lee Konitz, Phill Woods, Warne Marsh dentre outros.

Ainda paralelo ao Cool, surgiu o termo West Coast Jazz (jazz da Costa Oeste). Miles Davis, um jovem visionário que procurava se cercar sempre dos melhores músicos ( dentre os quais os músicos da orquestra de Claude Thornhill, o grande reduto de bons arranjadores), foi o elemento final para a definição do Cool Jazz:. Em 1949, contribuindo com apenas duas composições, Miles lançou o disco Birth of the Cool, definindo e evidenciando o estilo. Nesse projeto, Miles apenas liderou um trabalho onde os maiores responsáveis foram Gerry Mulligan, John Lewis, John Carisi e Gil Evans ( o mais célebre arranjador de Thornhill). O projeto, aliás, começa com a irreverente Tuba Band, o conjunto apresentado por Miles em 1948 com vários músicos brancos vindos da Costa Oeste. O conjunto tinha instrumentos um tanto inusuais em formações da época: tais como a tuba a a trompa.

No início dos anos 50 o reduto chamado West Coast se tornou a grande proposta para os inúmeros músicos brancos do oeste americano. Mostrando que os "brancos também sabiam swingar", a Costa Oeste passou a ser o reduto mais reverenciado até mesmo que o cenário da grande Nova Iorque. Os músicos tinha influências diversas: desde as preferências por aspectos da música erudita ( de onde surgiu o estilo Third Stream) passando pelo Bebop até desembarcar no recente Cool Jazz. Essas prefêrências diversas dos "músicos brancos" lhes permitiram unir a música ocidental com a afro-americana se firmando, assim, como inovadores compositores e arranjadores. Tanto que alguns músicos brancos que foram trabalhar em Nova Iorque com Claude Thornhill e outros grandes bandleaders, voltaram para a Costa Oeste no início dos anos 50, já que o cenário nessa época se mostrava totalmente promissor. Alguns bons músicos e arranjadores (como Henry Mancini) foram atraídos pelo enorme mercado do cinema em Hollywood, compondo grandes musicais e trilhas sonoras para filmes da época. Outros passaram ser atrações nos grandes clubes de Los Angeles à Nova Iorque, mostrando que os brancos podiam tocar jazz como os negros: dentre esses músicos os que mais destacaram foram Dave Bubreck e Paul Desmond com o famoso quarteto, Stan Kenton com seu moderno estilo de big band, o influente baterista Shelly Manne, Gerry Mulligan e Chet Baker com o revolucionário quarteto sem piano e Stan Getz com seu melodioso sax tenor a La Lester Young. Ainda na primeira metade dos anos 50, John Lewis, um dos únicos músicos negros a integrar o time Birth of the Cool, formou o moderno Modern Jazz Quartet e Chet Baker seguiu como a grande alma do Cool e o grande "Poeta do Jazz".

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