sábado, 11 de dezembro de 2010

PE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA: POEMA

(Praga)




A PRESENÇA MAIS PURA


Nada no mundo mais próximo

mas aqueles a quem negamos a palavra

o amor, certas enfermidades, a presença mais pura

ouve o que diz a mulher vestida de sol

quando caminha no cimo das árvores

“a que distância da língua comum deixaste

o teu coração?”

a altura desesperada do azul

no teu retrato de adolescente há centenas de anos

a extinção dos lírios no jardim municipal

o mar desta baía em ruínas ou se quiseres

os sacos do supermercado que se expandem nas gavetas

as conversas ainda surpreendentemente escolares

soletradas em família

a fadiga da corrida domingueira pela mata

as senhas da lavandaria com um “não esquecer” fixado

o terror que temos

de certos encontros de acaso

porque deixamos de saber dos outros

coisas tão elementares

o próprio nome

ouve o que diz a mulher vestida de sol

quando caminha no cimo das árvores

“a que distancia deixaste

o coração?”

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