sábado, 7 de agosto de 2010

BERNARDO LINHARES: POEMAS

(Ruaz)
Madrigal

No teu claro olhar castanho,
fruto que sai de uma flor
multicor e sem tamanho,
antes mesmo ao sol se pôr,
outro olhar se desmantela.
Numa nova aquarela,
de tal forma carinhosa,
o amor, em verso e prosa,
se bronzeia ao descrevê-la,
contemplando um par de estrelas
no teu rosto cor-de-rosa.
LUA

Para Renata Belmonte

Onde o limite é o amor,
o céu espelha
um mar de estrelas.
O fogo todo é cor de rosa.
O cinza, sereno violeta.
Feita perfeita para o gozo,
voa no céu a borboleta.


MENINA DOS OLHOS

No azul do oceano
de um mar de rosas,
com a rosa - dos - ventos
e um rosário de preces,
o poeta encontra
na menina dos olhos,
dois faróis que acendem
num corpo celeste.

MULHERES MOLHADAS

Para Bel Borba

O lagarto de ladrilho
chora lágrimas de poeta.
Nas pedras dessa selva tartarugas tatuadas
azulejam o abismo, figuras humanas
se arrastam como ofídios.
Em vôo incerto, pássaros de vidro
comem fósseis de insetos.
Entre o azul e o rio vermelho
no mosaico da sereia surge o homem erectus,
e no infinito de concreto, ao bel prazer,
mulheres molhadas tocam no sexo.

Poema dos olhos da Maysa

NAS ASAS DO OCASO

Profusão de matizes verde-vivos
as listas rematando em longas caudas.
Faixas brancas, e as linhas coloridas
tigrando-as de uma cor azul metálica.

De cada lado das espessas linhas
crescem alas de borda recortada,
unida a seu par por meio de estrias
matizadas por gotas de lilases.

Com o turquesa nas nuvens cor- de- rosa
um brilho de ouro invade cada greta,
demudando o poente em breve aurora.

Plumas cacheiam-se em tons violeta,
pintando o pôr-do-sol que é de quem vê,
pelos céus há pavões e borboletas.


96 – 27

Deitada por cima,
quatro olhos fechados,
de ponta-cabeça em
duas bocas, seis lábios.
Quatro pernas abertas,
braços apertados,
unidos numa dezena,
ligados no mesmo cálculo.
Dois corpos, com três cabeças,
meia volta, volta e meia
flutuam no quarto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário