quarta-feira, 5 de maio de 2010

QUATRO POEMAS DE HENRIQUE WAGNER

(Paul Klee)

VOZ COMPRIDA

Muito antes de ouvir,
o mar freqüenta o rochedo,
e a noite pinta, na sombra,
o rosto branco e macio da namorada.
Antes mesmo desta cidade,
quando os cavalos corriam negros,
batia aqui, perto de mim,
a espuma nova de um mar aberto.
Antes, muito antes de toda e qualquer palavra,
o mar pedia, bem baixinho,
em voz cantante e comprida:
- Silêncio!...


OS POMBOS

O vate paraibano teve o busto
ausente em toda a sua curta vida,
e ausente de si mesmo viu crescida
a angústia de não ser, vivendo Augusto.

Fantasma de si mesmo ergueu-se o susto
de versos em eterna despedida,
e o pouco que viveu, viveu a custo
de toda a poesia preterida.

Viveu a alma, apenas, desnutrida,
a carne pusilânime, maldita,
agora endurecida pelo busto.

Viveu a sombra, ainda empedernida,
e o corvo, que era a ave preferida,
não reconhece mais o pobre Augusto.


MEU FANTASMA

Eu fui uma criança sem porão,
criei fantasmas burros em meu quarto,
e o quarto eu dividia com um irmão
- de toda essa mobília estava farto.

Em cada canto havia um alçapão
e eu já não morreria mais de infarto
pois tudo eu já sabia de antemão
e andava mais cismado que lagarto.

Mamãe passava o dia dando ordem
(os cães que ladram um dia ainda mordem)
e havia certa ausência que não sai

ainda hoje de meu quarto: clara,
solar, tão verdadeira que não pára
de ser o meu fantasma, aquele pai.

A CASA DA INFÂNCIA

A casa onde morei
na infância
era imensa e cheia
de mistérios.
Os tios visitavam
minha sala
com freqüência
e com alarde.
Morava conosco
um tio-avô por parte
de pai, que fumava muito,
tossia muito e lia
todos os meus gibis de heróis.
As primas eram bonitas
e muito grandes, e só olhavam
para meu irmão mais velho,
que era baixinho e esturricado.
Meu quarto era nos fundos
e tinha uma janela
que dava para o quintal
da casa.
Um dia
todos foram à praia
e eu fiquei sozinho:
imenso e cheio de mistérios.

8 comentários:

  1. "A Casa da Infância" é, sem dúvida,
    um belo poema.

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  2. Não tem um poema que preste... Péssimo! Nelson Coutinho.

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  3. Prezado Nelson Coutinho, tenha um pouco de respeito! Em meu blog pessoas sem educação não são bem vindas!

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  4. Olha como há idiotas nesse mundo caduco, meu caro Hilton. Ninguém é obrigado a gostar dos poemas de ninguém, antes temos até o direito de fazer uma crítica depreciativa da obra, mas que essa seja construtiva.

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  5. Não vi depreciação alguma no comentário do Nelson Coutinho. O sujeito é idiota porque não gostou dos poemas do autor Henrique Wagner? O primeiro poema é muito bom, mas o Nelson Coutinho (que nunca vi mais gordo) tem todo o direito de não gostar dos poemas. Abraços. Daniel Bonfim

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  6. Estava eu navegando e procurando alguns textos de Henrique Passos. Eis que me debruço nesse espaço (vermelho carnal) e faço uma viagem à minha infância... Gostei do que li e do que senti.
    Parabéns ao poeta.

    Fátima Venutti
    Poeta - escritora
    Blumenau/ SC

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  7. Obrigada pelo elogio. Fico satisfeita com a resolução desse embrulho. Um abraço pra ti.
    Miranda

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  8. Fabrícia Miranda, seja sempre bem vinda ao Poesia Diversa. Um abraço!

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