domingo, 23 de maio de 2010

JORGE ELIAS NETO: POEMA

(Murais de Pompéia)

BALADA DA CARNE

Já que o dia é par: falemos de amor.
Já que à frente sempre restará o horizonte:
não me enterrarei além dos olhos.
Já que é no vazio insalubre da cura
que se percebe a alma evanescendo:
tragam-me uma taça.
Já que eu disse sim:
limitem os convidados
presentes à minha embriaguez.
Já que a palavra é uma puta:
rasguem o poema.
Já que a rima é farta e o poeta um estorvo:
que se recompense o primeiro idiota
a me cortar a carne.

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