sábado, 29 de maio de 2010

MOSAICOS BIZANTINOS II


Durante séculos, arte bizantina dos mosaicos desenvolve-se num espaço antiperspectivista. A perspectiva, que nos estabelece no interior das aparências apenas para aí nos encerrar, não é também a figura espacial simbólica do escoamento temporal, da hemorragia do ser, da morte? No espaço bizantino, em que todas as figuras dispõem-se e conformam-se absolutamente, essa recusa da perspectiva tem um sentido: as coisas não são escamoteadas umas em relação às outras, e as figuras, sobre as quais deixa de pesar a ameaça de desvanecimento ao longo das linhas de fuga, tornam-se presentes num ato de autodoação, sem ameaça de precariedade ou repetição. A forma ou Ideia, dizia Plotino, antes mesmo do nascimento da arte bizantina, deve transparecer na matéria informe, que assim atualiza o que ela representa. O espaço antiperspectivista funda, portanto, a possibilidade do aparecer do Ser e de seu surgimento, para se tornar o espaço de acolhimento da Presença.

(Michel Ribon, A arte e a natureza. Ed. Papirus)

Nenhum comentário:

Postar um comentário