sexta-feira, 7 de maio de 2010

RILTON PRIMO: POEMA

(Enrico Bianco)
PULSAR

A supernova é u’a paixão, estrela
a explodir lançando, ao cosmo, extremo
fulgor contendo tod’os elementos.

Que as das constelações mais claras luzes,
a supernova é, ao menos por uns dias,
tão resplendente quanto uma galáxia.

Depois declina a tua luz até
tornar-se, empós semanas, invisível,
lhe sobrevindo, elétrico, um colapso.

Cada partícula polar se choca,
gerando nêutrons que se adensam núcleo
de um astro outro e mesmo, estabilíssimo.

Dá-se-lhe o nome de Pulsar: estrela
já desbastada da matéria nove
décimos, mas seu décimo recresce.

Ultrapassando, todavia, três
vezes de um Sol a massa, fica instável
e, novamente, se vai colapsar.

Nasce daí u’a singularidade
no espaço-tempo em forma de Buraco
Negro, do qual não ’scapa a própria luz.

A luz, porém, daquelas explosões
originais da supernova deixa
seus rastros-ondas através dos séc’los...

Três supernovas por milênio nascem.
Treze bilhões tem, d’anos, a Via Láctea,
são trinta e nove milhões de Pulsares.

Assim te amo, é nosso amor, tão raro
e tão freqüente desde que inventado
o próprio cosmo que se chama amar.

Assim te quero, supernova nova,
em explosões de luzes, de desejos
mais fortes do que os dos demais unidos.

Assim, completo em elementos, amo,
amando o amor a amar a amada amando
até exaurir-me lasso de paixão.

Depois, sim: degenero, apago, morro.
E eis que, invisível, no meu eu-profundo,
opostas forças se me neutralizam.

Sou-te Pulsar e nova estrela-amor
que cresce sempre, até que, inexorável,
cai dentro em si, definitivamente.

E então sou teu de todo, mas escuro,
nada escapando-me de luz, espaço
ou tempo, e amar é oculto, é então mistério.

E então, de supernova em supernova,
o amor renasce e dorme em mim por ti,
porquanto é estrela, eterna finitude.

Assim te amo, estrela supernova,
se me apagando tão depressa quanto
faz teu clarão lançar-se além aos séc’los.


Rilton Primo
Salvador, 12 de março de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário