(Marc Chagall)
Borgiana
II
Repousa o veludo da pele,
tigre selvagem,
nessa distante gleba
à qual chegaste
por caminhos incertos.
Lembranças grisalhas,
velho tigre ...
Compartilho teus dentes
nada castos...
Restou-nos o passado...
E suas páginas
de bordas marcadas.
Sempre reviradas,
velho tigre,
para não esquecer os outros dias.
(O que nos resta quando o orvalho
se perde no esquecimento?)
Nas catedrais, teu ouro roubado.
Depois raspado dos pilares
para cobrir os dentes.
Como se sorrir dourado
os fizesse arremedo de gente...
(Quanto de tua mordedura
permeia nossos sonhos?)
Não se traduz o mistério
de tuas escápulas,
nem a névoa em teus olhos...
Quem sabe a milonga nos taquarais
ou tuas listras obliquas
resistam ao imprevisível fim.
Tardam as horas ...
Cada expectativa tem teu cheiro
e se esforça para caber no poema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário