(Félicien Rops)
NÉON
A noite se enluta, pequena hóstia vacilante
Que penetra o aroma e cuida dos arbustos
heréticos;
Agora sois
vós, devolvidos à pátria e aos prazeres
Que
arderão nas entranhas de vossos pensamentos.
Quanta
ternura desperdiçada, quantas noites tristes!
Acalentando
suplício para os cantores da fé...
Quisera
suplantar meu precioso vício e a ponte
Não mais
seria tão comprida quanto meus insuportáveis anos.
Luzeiro
imortal, toca minha sombra e prospera!
E eu veria
as belas meninas trançadas em dor
Não fossem
os infortúnios das sagradas obrigações –
E todos os
condados pelos quais meus dedos sangraram
Seriam
divinos para meu paladar quando a febre
Começasse
a pulular nos vales da memória – o baile
Começará e
as tenras raízes inconscientes vacilarão
Quando
ouvirem de um murmúrio as primeiras melodias
De luto e
comiseração pela vida passada que não vi.
Sob a
marquise da loja surrada voltei-me e relanceei
A amurada
lúdica que transpôs a madeira de minha alma.
Luzeiro
imortal, toca minha sombra e prospera!
Doçuras encantadas
nas cidades perdidas,
Esmurradas
crianças esfaimadas, gélidas de fúria,
Minhas
inaptidões, como sou fraco! Desistirei! –
Sim,
quando a última brisa me assoprar tristemente
Que já não
poderei suportar o fardo das experiências,
Pois as
mesmas há muito transformaram-se em feridas
Que o
tempo não beija porque quer se preservar.
Confiarei
em minhas mãos trançadas e em minha prece;
Terei
porventura mais radiâncias do que os velhos amores
Que minha
amada conheceu sem sequer me consultar?
Luzeiro
imortal, toca minha sombra e prospera!
Todos
seremos premiados com a promessa cálida
Estendida
dos cálices e das taças transbordantes,
E a
aventura dos apaixonados há de gorjear para o sol
Como
pássaros magoados junto ao sombral das flores.
Ah, jóias
obscuras, quantas vezes pereci por vós!
Quantos
beijos deixei de dar por lealdade à vossa voz!
Luzeiro
imortal, toca minha sombra e prospera!
10/09/12
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