quinta-feira, 13 de setembro de 2012

DIEGO TARDIVO: POEMA

 
(Félicien Rops)
 
 
NOS PÂNTANOS OU NAS GRANDES MATAS
 
Nos pântanos ou nas grandes matas
É que me esqueço de onde vinham os gritos,
Roucos gritos de amantes inválidos
Suplicando por pão ou um pouco de paz,
Pois era outono e a voz de qualquer pássaro
Sequer transpunha o limiar de minha decência,
Quando pálido e morto eu viesse falar
De amores surdos estremecendo ao sol.
 
E era ainda a temerária exatidão
E não por frioleira de espírito ou candura,
Mas por simples desejo irrefreável
Meu coração derramou mais lágrimas
Do que podem suportar as brisas marítimas,
E a morte de minha amada gritará para meus olhos –
“Corre e vigia a primeira constelação que deste
À confraria dos eternos e santos vagabundos!”
 
Não sou digno deste momento inefável,
Não me julgueis digno do Amor intocável,
Pois que em meu peito repousa o remorso
De haver mentido para os cálices dourados
Acerca da miséria que me prometeram príncipes
E sacerdotes, portanto não me digais
Que terei ainda uma voz e um punhado de dedos
Para apalpar o brilhante mistério de minha nudez.
 
07/09/12

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