(Félicien Rops)
QUATRO
NOTAS DE SOMBRA
I
Cordas de
violão estremecidas por meninos nus.
O corpo
saqueado por fenômenos visuais e auditivos.
A língua
espichada para a forragem demoníaca do Ser.
O cântico
sistemático de todos os opostos possíveis.
Ligeiro
movimento para a esquerda. Calai-me!
Pérfida
oscilação no deserto carmesim. Atai-me!
Lúcida
peregrinação no solo dormente. Fazei-me!
Cândida
romaria entre folhagens doentias. Suportai-me!
E então
estarei outra vez dormindo ao relento
Quando a
mancha do pirilampo sacudir o planeta
Como
tremem as atmosferas lívidas dos santos
E as
galhofas inocentes dos tenros palhaços.
Como
gostaria de receber o pueril perdão
E caminhar
perenemente rumo à luz de antanho!
Como
gostaria de mastigar minhas doces convicções
Entre
minhas mandíbulas de mármore e sonho!
Não
acredito que possam curar-me deste devir,
Apenas
acredito que continuarei despindo-me assim
Até que
cheguem as primeiras bailarinas do ar
Respirando
ultrajes através da parede invisível.
II
Acreditada
então
A seara, e
deitada
A mocinha
– ferida
Por
grisalhos brasões.
Cunhada
eterna
Fui teu
filho e dor
Sentirás
no instante
Em que o
belo partir.
Cansaço e
presença
São ares
de saúde –
Como os
mil vestígios
De minha
aptidão.
Será que
terei
Dinheiro
algum dia?
Ou até o
eterno
Poderei
correr livre?
Creio em
ti, Ventura!
Meu colo é
macio,
Repouses
aqui,
Dorme
apascentada.
III
Jamais tornaremos
a ver o horizonte opaco
E nossos
sonhos são ainda muito insones.
Jamais
diremos à primeira gratidão pensada
Que
irascíveis trotamos ao longo das matas.
Pois que
devoramos nossos próprios brilhos
Dentro da
noite e fora do apoteótico dia.
Sejamos
absolutamente mordazes nesta desventura,
Pois o
futuro depende de nossa coragem!
E ainda
que de límpidos reflexos no luar quente
Pudesse eu
extrair a aura de qualquer banquete,
A
superfície de minha alma estaria ainda conquistada
E o fundo
de minha personalidade esmurraria a realidade.
Conquistamos
os terrenos de todas as porcarias
E
defecamos sobre as cabeças dos pardais racionais,
Fizemos e
refizemos nossa fama à custa de grãos
E a morte
decerto será generosa quando nos deitarmos.
Acreditara
outrora nos vinhos amargos e ásperos,
Nas
estradas que não terminam e nos palácios nus,
Nos
centauros decadentes e nos séculos das verdades,
Nos
elementos neutros de uma mente enviezada.
IV
Parti. O
caminho é certo.
Regressemos
à escuridão –
Deixemos
para trás a Luz
E
engulamos tudo.
Conheço-me.
Sei rezar.
A lassidão
me atormenta.
O Prazer
me emenda
Às saias
da Justiça.
Cansado,
quero fugir.
Tremer no
vasto arrebol.
Exaurir-me
de febres
E
estontear-me de olhares.
Enfim,
liberto estou.
À minha
frente, néscia,
Descortina-se
a flora
E toda a
vida passada.
Continuarei
sendo.
O ar está
quente e seco.
Devorem-me
as quimeras!
Sou o
demônio do riso.
07/09/12
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