segunda-feira, 24 de outubro de 2011

FLORISVALDO MATTOS: POEMA

(Jean François Millet)



Campesino


Como folhas caindo num deserto,
humanas resistências vão caindo
sobre campo sem sol. Peito coberto
de um só grito esperança vai cobrindo.

Rude labor de enxadas consumindo
sangue que dá de sangue um sonho certo,
esperanças do amanho já sumindo
na sede de esperança que está perto.

Amargas deslembranças param, vendo
no íntimo do espetáculo chuvoso
a aparecido desaparecendo.

Antes que o amor se ausente ao chão sem húmus,
já baixam sobre o campo generoso,
as águas da manhã movendo rumos.

Um comentário:

  1. Hilton,

    Florisvaldo Mattos é abrangente, sua poesia se cobre dos mais diversos temas, formas e dicções; seus versos, ao mesmo tempo diretos, sintetizadores, aspirando ao raciocínio filosófico, onde nada além do necessário se mostra, são também de uma leveza muito rara e de grande força lírica que, parecem-me, à primeira vista – como deveriam parecer aos admiradores de outrora –, o mais puro produto das musas, da magia ou coisa parecida... mas é irresponsável pensar assim, que uma coisa tão desejada e tão bem elaborada se realize magicamente.

    Não se espera de um poeta que produz versos desta qualidade nada menos que a severa vontade de prover seus melhores meios de execução, e provê-los bem.

    Florisvaldo sabe disso, sabe que o prazer estético é também um prazer da razão e que a lei da mais pura e verdadeira arte é a lei do Ne quid nimis, como afirmara Ortega y Gasset, por isso mesmo, sua lírica se apóia numa distribuição mística, mas sem perder as rédeas da razão e das formas que lhe ajudarão em seu próprio entendimento, de maneiras a que se associam unidades de sentido de natureza extremamente complexas.

    Abraços,


    Silvério Duque

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