(Paul Klee)
Elogio do sonho
Quando caminha nas águas
banha as agulhas noturnas
e bebe chamas de espumas
nos claros copos da lua
esconde no corpo um fogo
claro, vermelho, constante:
rubro ondular de bandeiras
por entre nuvens dançantes
ei-la subindo nas chuvas
galopando em seu cavalo
a cabeleira de trigo
solta ao furacão voante
ordena para que um dia
os sons se mudem nas cordas
destes violinos cegos
que por entre urtigas tocam
— vejo-a inteira, emparedada
entre as brasas que caíam
naqueles vales secretos
onde as árvores fugiam.
Análise da sombra
Analisa-se da sombra
seu caráter permanente:
pela manhã retraindo
a imagem, à tarde crescente.
E aquele instante em que a sombra
adelgaça o corpo fino
como se no chão entrasse
quando o sol se encontra a pino.
Quem a esse instante mira
em oposição ao lado
onde o sol era luz antes
logo vê o passo vago
da sombra que agora cresce
o corpo de onde se filtra
até fundir-se no limbo
que em torno dela gravita.
Forma esse limbo a coroa
que as sombras traz federadas:
soma de todas as sombras
num só nó à noite atadas.
Caro Hilton,
ResponderExcluirCésar Leal é um poeta que, à maneira dos grandes mestres da Grécia Clássica que ele tanto ama, faz de suas palavras não meras alegorias, mas potências, fazendo-se notar pela força de seus significados.
Além do mais, é um grande ensaísta e crítico de poesia. Seu livro "Os cavaleiros de Júpiter" é, para mim, um dos melhores e mais sinceros tratados sobre poesia que já li.
Abraço fraterno,
Silvério Duque