Passos e acenos
Nada tens de ave. Fera lúcida, olho
felino (pantera de Rilke entre grades)
nunca indefesa, à espreita. Além dos olhos,
bebo teu corpo, teu cabelo (franja
dos dias) — o mais dardeja. Também és
elástica e macia: braços, pernas
de roliça cogitação. Vais, vens.
De pé, agitas os vaporosos membros,
ao calor da voz que atordoa o vento.
Sentada, as formas se acomodam, urdem
rútilo desenho. É quando, pasmo, ouço
o marulho do sexo, ávido. Bem
que mereço essa onda, ronda de garras
que me acenam, me buscam pela tarde.
Amigo Hilton,
ResponderExcluirNão se espera de um poeta que produz versos desta qualidade nada menos que a severa vontade de prover seus melhores meios de execução, e provê-los bem.
Florisvaldo sabe disso, sabe que o prazer estético é também um prazer da razão e que a lei da mais pura e verdadeira arte é a lei do Ne quid nimis, como afirmara Ortega y Gasset, por isso mesmo, sua lírica se apóia numa distribuição mística, mas sem perder as rédeas da razão e das formas que lhe ajudarão em seu próprio entendimento, de maneiras a que se associam unidades de sentido de natureza extremamente complexas.
Também não é à toa que seus sonetos são o que de mais forte e verdadeiramente poéticos há em sua obra, garantindo a ele um lugar que se destina a poucos em nossa literatura; lugar onde se encontram também colegas seus de geração, como Ildásio Tavares, João Carlos Teixeira Gomes e Maria da Conceição Paranhos (geração, diga-se de passagem, que sabia o que era poesia, diferentemente a muitos desta atual geração de ditos “poetas” que não sabem – e nem querem saber –, por exemplo, a básica diferença entre éros e porné, “prostituta”, ou pórnos, “prostituído”, “depravado”, e seus derivados, ou seja, daquilo que se refere à prostituição, à obscenidade, às questões sexuais; em suma, de forma chula, baixa, o puramente fescenino, e propositalmente grosseira, muito comuns, como nos alertara Alexei Bueno, ao universo da poesia satírica e burlesca, a qual, aliás, nossos “novos” bardos tanto odeiam) e que se juntam a nomes como Emílio Moura, Carlos Pena Filho, Reynaldo Valinho Alvarez; aproximando-se, conseqüentemente, dos melhores: os excepcionais Jorge de Lima e Bruno Tolentino.
Como prova disso, eis a beleza impregnada de erotismo, presente no soneto "Passos e acenos", como exemplo, inclusive para nossas novas gerações – à guisa de seu possível aprendizado...
Um abraço,
Silvério Duque