sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ILDÁSIO TAVARES: POEMA

(Gabriel Ferreira)




Balada da Babilônia



Eu não quero esta mulher

que me fascina na tela,

cheia de luzes e cores,

encaixotada no vídeo

como ração refulgente

pra se comer com os olhos

que faz de mim mariposa

querendo que eu queime as asas

na luz da televisão.



Eu não quero essa mulher

que se entrega nua em pêlo

nas páginas das revistas

na distância do papel

e quer o meu onanismo;

e quer dinheiro por nada

com seu corpo de escultura

de mármore feito carne,

seu sexo milionário.



Eu quero aquela menina

lá no alto do sobrado

com as pernas grossas ocultas

pela grade da sacada

que me sorri quando eu passo,

sorrindo as vagas promessas

dos sorrisos das mulheres,

todo encanto que entreteço

na minha imaginação.



Eu quero aquela menina

que trabalha no escritório

e que, quando cruza as pernas,

todo mundo fica louco –

com o decote generoso,

mostrando as marcas das alças

do biquíni no seu colo,

apontando para os seios

palpitantes, quase à mostra.



Eu quero aquela menina,

caixa do supermercado

que troca olhares furtivos

enquanto registra as compras,

com sua farda que cuida,

lava e passa todo dia

para estar no seu trabalho

com a elegância do pobre.



Eu quero aquela

menina

que é balconista no shopping

e que apesar das varizes

fica em pé o dia

todo,

atendendo com um sorriso

os clientes oportunos:

que sai só, tarde da noite,

sem perder a sua pose

no sacolejo do ônibus.



Eu quero aquela menina

colega de faculdade

que me dá cola no exame

e nem sequer é bonita

(mas empresta o apontamento),

com quem estudo pra prova,

colando coxa com coxa

imaginando loucuras,

sem coragem para falar.



Não. Não quero essa mulher

que está em oferta na praça.

Eu quero mulher de graça.

Eu quero poder sonhar.

Tanta beleza me oprime,

tanta sensualidade

tanta perícia na cama.

Sou amador. Quero amor.

E não profissionalismo.



Os meus olhos são meus olhos.

Minha cama é minha cama.

Não sou rei pra ter rainha –

a mulher que fosse minha

nem minha tinha de ser.

Tinha que ser dela mesma

e ser o seu sentimento;

e ter em seu pensamento

querer ser minha mulher.

Um comentário:

  1. Hilton,

    Sim! Dois grandes mestres... dois Grande amigos, também.

    Tenho muitas saudades do velho Ildásio... de seus conselhos, de sua sabedoria. Mestres assim são cada vez mais raros hoje em dia!

    Obrigado amigo, por me proporcionar esta boa lembrança.

    Abraços,

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