sexta-feira, 28 de outubro de 2011
ILDÁSIO TAVARES: POEMA
Balada da Babilônia
Eu não quero esta mulher
que me fascina na tela,
cheia de luzes e cores,
encaixotada no vídeo
como ração refulgente
pra se comer com os olhos
que faz de mim mariposa
querendo que eu queime as asas
na luz da televisão.
Eu não quero essa mulher
que se entrega nua em pêlo
nas páginas das revistas
na distância do papel
e quer o meu onanismo;
e quer dinheiro por nada
com seu corpo de escultura
de mármore feito carne,
seu sexo milionário.
Eu quero aquela menina
lá no alto do sobrado
com as pernas grossas ocultas
pela grade da sacada
que me sorri quando eu passo,
sorrindo as vagas promessas
dos sorrisos das mulheres,
todo encanto que entreteço
na minha imaginação.
Eu quero aquela menina
que trabalha no escritório
e que, quando cruza as pernas,
todo mundo fica louco –
com o decote generoso,
mostrando as marcas das alças
do biquíni no seu colo,
apontando para os seios
palpitantes, quase à mostra.
Eu quero aquela menina,
caixa do supermercado
que troca olhares furtivos
enquanto registra as compras,
com sua farda que cuida,
lava e passa todo dia
para estar no seu trabalho
com a elegância do pobre.
Eu quero aquela
menina
que é balconista no shopping
e que apesar das varizes
fica em pé o dia
todo,
atendendo com um sorriso
os clientes oportunos:
que sai só, tarde da noite,
sem perder a sua pose
no sacolejo do ônibus.
Eu quero aquela menina
colega de faculdade
que me dá cola no exame
e nem sequer é bonita
(mas empresta o apontamento),
com quem estudo pra prova,
colando coxa com coxa
imaginando loucuras,
sem coragem para falar.
Não. Não quero essa mulher
que está em oferta na praça.
Eu quero mulher de graça.
Eu quero poder sonhar.
Tanta beleza me oprime,
tanta sensualidade
tanta perícia na cama.
Sou amador. Quero amor.
E não profissionalismo.
Os meus olhos são meus olhos.
Minha cama é minha cama.
Não sou rei pra ter rainha –
a mulher que fosse minha
nem minha tinha de ser.
Tinha que ser dela mesma
e ser o seu sentimento;
e ter em seu pensamento
querer ser minha mulher.
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Hilton,
ResponderExcluirSim! Dois grandes mestres... dois Grande amigos, também.
Tenho muitas saudades do velho Ildásio... de seus conselhos, de sua sabedoria. Mestres assim são cada vez mais raros hoje em dia!
Obrigado amigo, por me proporcionar esta boa lembrança.
Abraços,