sábado, 4 de setembro de 2010

FERREIRA GULLAR: POEMA

SORTILÉGIO

Estava eu ali
no escuro e
de repente
o silêncio se move

enruga-se, melhor
dizendo, e me
roça as virilhas
(onde dormiam fúrias)

É quando uma
quase voz me toca
o lado esquerdo
do corpo para onde
me volto
e estás ali
nua

emergias da treva
as coxas o ventre
os seios
eram luas encantadas
e do centro
do teu corpo
a macia estrela negra
me chamava
para dentro de si
enquanto o teu rosto menino
espantosamente familiar
sorria a me dizer: jamais
jamais jamais
escaparás

4 comentários:

  1. Cá.ti.vô... Waw! Belíssimo! Conheço pouco do Gullar e esta semana um artigo repassado por uma amiga despertou a vontade de lê-lo mais, este aqui foi singular...

    :)

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  2. Prezado Francisco, obrigado pela visita! Gullar é o maior poeta brasileiro vivo! Acabou de lançar seu novo livro Em alguma parte alguma. Um grande abraço!

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  3. Lindo, poema! De uma sensualidade na "medida" certa. Impressionante.
    Gullar é um daqueles grandes poetas que, há muitos anos na estrada, é poesia pura.
    Bela postagem, amigo!
    Um abraço.
    Jefferson.

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  4. Sim, meu amigo e poeta Jefferson, Gullar é um dos maiores poetas vivos no mundo... Estou ansioso para ler seu novo livro. Um abraço.

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