terça-feira, 7 de setembro de 2010

FRANCISCA JÚLIA: SONETO




NOTURNO


Pesa o silêncio sobre a terra. Por extenso

Caminho, passo a passo, o cortejo funéreo

Se arrasta em direção ao negro cemitério...

À frente, um vulto agita a caçoula do incenso.


E o cortejo caminha. Os cantos do saltério

Ouvem-se. O morto vai numa rede suspenso;

Uma mulher enxuga as lágrimas ao lenço;

Chora no ar o rumor de misticismo aéreo.


Uma ave canta; o vento acorda. A ampla mortalha

Da noite se ilumina ao resplendor da lua...

Uma estrige soluça; a folhagem farfalha.


E enquanto paira no ar esse rumor das calmas

Noites, acima dele em silêncio, flutua

O lausperene mudo e súplice das almas.

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