É possível que a verdadeira função do escritor seja esta: cobrar sentido do vivido.
Começar um livro é temer o tempo.
A significância do escrito pressupõe que se esqueça e se desconsidere a insignificância do escritor.
Quando um livro cala fundo no leitor, este, depois de o ler, não é capaz de comentá-lo; cala-se sobre ele.
A literatura não é um jogo, mas o jogo por excelência: fazê-la é não só jogar por jogar, mas também – e ao mesmo tempo – jogar por viver.
Interiorizar e compreender. Ler é transformar um discurso externo em discurso interno.
O Escritor é um jogador. Seus dados são a Contingência e a Necessidade.
O escritor está ao mesmo tempo muito distante e muito próximo da vida.
A obra de arte só ecoa no homem na medida em que o homem ecoa a obra de arte.
Na arte, o gosto não é só critério; é fato.
O que sentimos sobre um fato – ou no seu próprio interior, ao vivê-lo – já é uma primeira interpretação, uma primeira versão que fazemos dele: o seu sentido é o nosso sentido, isto é, o que sentimos.
Cada um é o seu tempo; sua sensibilidade é sua época – seu coração é o que viveu.
Na arte, o niilismo é vivido como gozo.
Quando a sociedade reconhece a obra de um artista ou intelectual que morreu no anonimato, não faz mais que lisonjear a si mesma: ou purgando um sentimento de culpa, ou, o que é muito mais provável, mostrando a si mesma como é generosa em dar reconhecimento a quem ela ignorou a vida toda.
Sob o signo de Brás Cubas: aforismos e desaforismos. Ed. Unicamp
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