sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

STEFANNI MARION: POEMA


(Alberto Burri)

.esquadrinhar.

vivendo no covil de minha memória
inquilino dessa sarna eruptiva
como um escafandrista no oceano
canto a canção do princípio.

viver como um cancro,
andar pelos buracos
aspirando a metrópole poluída
e não há blocos de sol pelos desvios,
apenas um quarto e o espólio literário
avançando as portas do inferno.

meus pés, minhas mãos, meu corpo todo.
tudo em desalinho
sem coro, nem anjos ou velas.
minha dor criminal afogando-me
como afogaria um ramalhete inteiro,
sem néctar ou pétalas remanescentes.
minha ausência e minhas perdas,
minhas letras nessas folhas sonoras.
um dia tudo isso causará desilusão,
então desmonto meu esquife e tento
ficar nem que seja apenas uma noite.

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