terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

JORGE ELIAS NETO: POEMA


(Paul Klee)


Cronópio

Para os cronopianos e Cortázar

Sou o fiel

depositário

de um

torrão de açúcar.

 
Guardei

um tanto

de giz

entre as unhas

(pó de palavras)

 
e essa lasca

de marfim

do túmulo profanado

dos paquidermes.

 
Isso basta,

na trégua

precária

no gargalo

desse vulcão

que hiberna

em estado de

flor.


Polvilho

as relíquias

pois ignoro

a espessura

das trevas.

 
O inverno é longo

– o bastante –

para que a neve

reaga a esses

rudimentos de liberdade

extinta.

 
Haverá um tempo

de degelo,

águas e

correntezas;

de uma outra

dimensão

por detrás

dessa moldura

vazada.

 
Caronte

aguarda

o sal da

terra.


Os demônios

(e os cronópios)

sempre souberam

que para o sobrevivente

a primeira qualidade

do sonho

é ser corruptível.

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