sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ALEXANDRE GUARNIERI: POEMA


(Luís Sacilotto)


CAIXA PRETA

no corpo, no rosto, sempre: uma caveira os freqüenta, interna, atrás da pele, sob a epiderme; o que a superfície serena aparenta mascara o cancro e, por hóspedes, os vermes; os tecidos exercendo seu arcano, são meandro camuflando o âmago; enquanto o tórax resguarda o motor do miocárdio; o encéfalo: no crânio; no osso: tutano; no esqueleto temporário, uma centopéia de vértebras o sustenta, as vísceras lacradas ao ventre, mero aparato maquiado sob camadas de células, em série, a lânguida flâmula no acúmulo dos músculos, eis toda a verdade: o que mostra esse monstro, ogro, invólucro, é um evento pregresso, esperado sem mistério, ter corpo é habitar o futuro cadáver de si próprio, ignóbil, sólida necrose avançando sobre o óbvio, aviso prévio, carne e ossada (nem sempre velhos) desse espécime de cemitério.


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