(Luís Sacilotto)
CAIXA PRETA
no corpo, no rosto, sempre: uma
caveira os freqüenta, interna, atrás da pele, sob a epiderme; o que a
superfície serena aparenta mascara o cancro e, por hóspedes, os vermes; os
tecidos exercendo seu arcano, são meandro camuflando o âmago; enquanto o tórax
resguarda o motor do miocárdio; o encéfalo: no crânio; no osso: tutano; no esqueleto
temporário, uma centopéia de vértebras o sustenta, as vísceras lacradas ao
ventre, mero aparato maquiado sob camadas de células, em série, a lânguida flâmula
no acúmulo dos músculos, eis toda a verdade: o que mostra esse monstro, ogro,
invólucro, é um evento pregresso, esperado sem mistério, ter corpo é habitar o
futuro cadáver de si próprio, ignóbil, sólida necrose avançando sobre o óbvio,
aviso prévio, carne e ossada (nem sempre velhos) desse espécime de cemitério.
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