domingo, 27 de novembro de 2011

JORGE ELIAS NETO: POEMA

(De Chirico)




CARTA DE UM JOVEM AO POETA NIETZSCHE

O fino trato
que despendes com tua escrita
não merece o desfastio
dos ascetas.

Poeta,
mantém léguas
do itinerário dos justos.

O verso
que te arde as conjuntivas,
que faz suar as mãos sobre a mesa,
desgosta os santos.

Lembra-te de que
gostariam de te extirpar
os olhos mas
te presenteiam com um sorriso.

Sempre soubeste
que poderias contar
com teus inimigos
(os bons e justos tudo temem)

Poderá existir alguém
mais fiel que um inimigo?




Um comentário:

  1. A verdade verdadinha, é que os inimigos, ainda assim, nos surpreendem quando mais esperamos!... Não nos causa qualquer surpresa quando esperamos, deles, os inimigos, aquele veneno, aquele ódio ou esvaziada inveja!... Ter inimigos é ter algo que quem não os tem não sabe o que perde, já que são deliciosos os frutos amargos que os amarga, caídos da árvore que é nossa e nos são tão doces!... É uma sorte ter inimigos... quase uma dádiva caída do céu bem no âmago infernal onde a raiva arde, consumindo-os até nem as cinzas restarem; esse vento suave que nos acaricia e o mesmo que fragmenta, que os estilhaça como se tivessem refastelado com uma refeição, último pedido, de granadas servidas à mesa amparada por cotovelos de dor!...
    É quase um orgasmo percorrido sem clímax, mas sempre satisfatório e duradouro;)...




    Abraço

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