terça-feira, 22 de novembro de 2011

ÁNGEL GONZÁLEZ: POEMAS TRADUZIDOS

(Lucio Fontana)








Ángel González (1925-2008) um dos mais notáveis poetas espanhóis da chamada Geração dos 50. Por muitos considerado o maior poeta espanhol do século XX. Entre seus livros mais conhecidos figuram Áspero mundo, y Sin esperanza, con convencimiento. Sobre Angel González escreveu Luis Isquierdo na introdução da última antologia publicada do autor:


O dom do poeta é a denúncia do negativo que perpassa a vida: a belicosidade que não cessa, a dependência de imposições, o medo disseminado das condutas. Sem renunciar à beleza, os versos tem que tratar também de nossos erros e fracassos. A beleza resiste, e tem seus momentos. Entretanto tem-se que ter conhecimento de sua raridade.

Tradução: Jorge Elias Neto



[ Para que yo me llame Ángel González]

Para que yo me llame Angel González,
para que mi ser pese sobre el suelo,
fue necesario um ancho espacio
y um largo tiempo:
hombres de todo mar y toda tierra,
fértiles vientres de mujer, y cuerpos
y más cuerpos, fundiéndose incesantes
em outro cuerpo nuevo.
Solstícios y equinoccios alumbraron
com su cambiante luz, su vario cielo,
el viaje milenario de mi carne
trepando por los siglos y los huesos.
De su pasaje lento y doloroso
de su huida hasta el fin, sobreviviendo
naufrágios, aferrándose
al último suspiro de los muertos,
yo no soy más que el resultado, el fruto,
Lo que queda, podrido, entre los restos;
esto que veis aqui,
tan sólo esto:
um escombro tenaz, que se resiste
a su ruína, que lucha contra el viento,
que avanza por caminos que no llevan
a ningún sítio. El êxito
de todos los fracasos. La enloquecida
fuerza del desaliento ...



[ Para que eu me chame Ángel González]


Para que eu me chame Angel González,
para que meu ser pese sobre o solo,
foi necessário um amplo espaço
e um largo tempo:
homens de todo o mar e toda terra,
férteis ventres de mulheres, e corpos
e mais corpos, fundindo-se incessantes
em um novo corpo.
Solstícios e equinócios deslumbraram
com sua luz oscilante, seus múltiplos céus,
a viagem milenar de minha carne
vencendo os séculos e os ossos.
De sua passagem lenta e dolorosa
de sua fuga até o fim, sobrevivendo
naufrágios, agarrando-se
ao último suspiro dos mortos,
eu não sou mais que o resultado, o fruto,
o que tombou, podre, entre os restos;
este que vês aqui,
tão somente este:
um escombro tenaz, que resiste
a sua ruína, que luta contra o vento,
que avança por caminhos que não levam
a nenhum lugar. O êxito
de todos fracassos. A enloquecida
força do desalento ...


Eso no es nada

Si tuviésemos la fuerza suficiente
para apretar como es debido um trozo de madera,
sólo nos quedaria entre las manos
um poco de tierra.
Y si tuviésemos más fuerza todavía
para presionar com toda la dureza
esa tierra, sólo nos quedaría
entre lãs manos um poco de agua.
Y si fuese posible aún
oprimir el agua,
ya no nos quedaría entre las manos
nada.


Isso não é nada

Se tivéssemos a força suficiente
para se comprimir como se deve um tronco de madeira,
somente nos restaria entre as mãos
um pouco de terra.
E se tivéssemos ainda mais força

para pressionar com toda intensidade
essa terra, somente nos restaria
entre as mãos um pouco de água.
E se fosse possível alguém
comprimir a água,
já não nos restaria entre as mãos
nada.


Cumpleaños

Yo lo noto: cómo me voy volviendo
menos cierto, confuso,
disolviéndome en el aire
cotidiano, burdo
jirón de mí, deshilachado
y roto por los puños
yo comprendo: he vivido
un año más, y eso es muy duro.
¡mover el corazón todos los días
casi cien veces por minuto!

Para vivir un año es necesario
morirse muchas veces mucho.


Aniversários


Eu observo: como vou me tornando
incerto, confuso,
disolvendo-me no ar
cotidiano, grosseiros
retalhos de mim, desleixado
e maltrapilho.
Eu compreendo: vivi
um ano mais e isso é muito duro.
O coração pulsa todos os dias
quase cem vezes por minuto!
Para viver um ano é necessário
morrer-se muitas vezes.


El derrotado

Atrás quedaron los escombros:
humeantes pedazos de tu casa,
veranos incendiados, sangre seca
sobre la que se ceba -último buitre-
el viento.

Tú emprendes viaje hacia adelante, hacia
el tiempo bien llamado porvenir.
Porque ninguna tierra
posees,
porque ninguna patria
es ni será jamás la tuya,
porque en ningún país
puede arraigar tu corazón deshabitado.

Nunca -y es tan sencillo-
podrás abrir una cancela
y decir, nada más: «buen día,
madre».
Aunque efectivamente el día sea bueno,
haya trigo en las eras
y los árboles
extiendan hacia ti sus fatigadas
ramas, ofreciéndote
frutos o sombra para que descanses.



O derrotado


Atrás tombaram os escombros:
fumegantes pedaços de tua casa,
Verões incendiados, sangue seco
para que engorde – o último abutre -
o vento.

Tú segues adiante na viagem, até
o tempo chamado porvir.
Porque nenhuma terra
te pertence
porque nenhuma pátria
é nem será tua,
porque em nenhum país
Pode acolher teu coração vazio.
Nunca – e isso é tão claro -
Poderás abrir uma porta
e dizer, simplesmente: « bom dia,
mãe ».
Embora efetivamente o dia seja bom,
Haja trigo nos campos
e as árvores
extendam até ti suas fadigadas
ramagens, oferecendo-te
frutos e sombra para que descanses.


Otro tiempo vendrá distinto a éste...

Otro tiempo vendrá distinto a éste.
Y alguien dirá:
«Hablaste mal. Debiste haber contado
otras historias:
violines estirándose indolentes
en una noche densa de perfumes,
bellas palabras calificativas
para expresar amor ilimitado,
amor al fin sobre las cosas
todas.»
Pero hoy,
cuando es la luz del alba
como la espuma sucia
de un día anticipadamente inútil,
estoy aquí,
insomne, fatigado, velando
mis armas derrotadas,
y canto
todo lo que perdí: por lo que muero.


Outro tempo virá distinto deste ...

Outro tempo virá distinto deste.
E alguém dirá:
«Falas-te mal. Devias ter contado
outras histórias:
violinos esticando-se indolentes
em uma noite densa de perfumes,
belas palavras qualificativas
para expressar o amor sem limite,
amor acima de todas
as coisas.»
Porém hoje,
quando a luz do Amanhecer
é como a espuma suja
de um dia antecipadamente inútil,
estou aqui,
insone, fadigado, velando
minhas armas derrotadas,
e canto
tudo que perdi: pelo que morro.


Son las gaviotas, amor

Son las gaviotas, amor.
Las lentas, altas gaviotas.
Mar de invierno. El agua gris
mancha de frío las rocas.
Tus piernas, tus dulces piernas,
enternecen a las olas.
Un cielo sucio se vuelca
sobre el mar. El viento borra
el perfil de las colinas
de arena. Las tediosas
charcas de sal y de frío
copian tu luz y tu sombra.
Algo gritan, en lo alto,
que tú no escuchas, absorta.
Son las gaviotas, amor.
Las lentas, altas gaviotas.

São as gaivotas, amor

São as gaivotas, amor.
As lentas, distantes gaivotas.
Mar de inverno. A água cinza
mancha de frio as rochas.
Tuas pernas, tuas doces pernas,
enternecem as ondas.
O céu sujo tomba
sobre o mar. O vento borra
o perfil das colinas
de areia. As tediosas
lagoas de sal e frio
imitam tua luz e tua sombra.
Gritos, lá do alto,
que tu não escutas, absorta.
São as gaivotas, amor.
As lentas, distantes gaivotas.

González À. Antologia poética; – Madrid: Alianza Editorial, terceira reimpressão, 2008.



Jorge Elias Neto (1964) é médico, pesquisador, poeta e leitor. Capixaba, reside em Vitória – ES. Livros: Verdes Versos (Flor&cultura ed. - 2007), Rascunhos do absurdo (Flor&cultura ed. - 2010) , Os ossos da baleia e Breviário dos olhos (inéditos). Participação: Antologia poética Virtualismo (2005), Antologia literária cidade (L&A Editora – 2010), Antologia Cidade de Vitória (Academia Espiritossantense de letras – 2010 e 2011) e Antologia Encontro Pontual (Editora Scortecci – 2010). Colabora com poemas em vários blogs e na revista eletrônica Germina, Diversos-afins, Poesia diversa e no Portal Literário Cronópios.
Blog: http://jeliasneto.blogspot.com E-mail: jeliasneto@gmail.com

5 comentários:

  1. É uma grande satisfação ter essas traduções de Jorge Elias Neto no Poesia Diversa. Obrigado, amigo e grande poeta!

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  2. Parabéns pela sensível tradução.Valeu a pena ler.

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  3. Parabens Jorge Elias, voce é um Tra(i)du(t)dor apaixonado. Abraços, Italo Campos.

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