domingo, 18 de setembro de 2011

LEITURAS (SILVÉRIO DUQUE)








UM POETA DEFINITIVO




Pode a poesia expressar a busca permanente do homem pelo belo, pelo eterno, pelo sublime estigma do Ser entre a transitoriedade constitutiva de todas as coisas? Há poetas que cantam ruínas cotidianas. Há poetas que cantam o derradeiro sonho primevo, anterior a Queda, grande narrativa simbólica das ações humanas e seus anseios pela perfeição, pela unidade, arquetípico platônico, Éden Bíblico. Assim é Silvério Duque, um poeta definitivo. Seu livro, A pele de Esaú, manifesta em forma e conteúdo, uma lírica existencial, metafísica, como grandes são os poetas desse gênero, Jorge de Lima, Rilke, T.S. Eliot, para citar alguns. Verdadeira katharsis aristotélica, que busca no precário horizonte da vida, o desvelamento do eterno, a justificação de todo itinerário outorgado ao homem como seu destino:



Hoje, é chegado o tempo dos retornos/e toda forma espera o seu ofício/como o vaso existente em todo barro.



Purificação de uma busca que se inicia pelo Amor:



- Teu corpo me é louvor e desengano/e eu sou como que um sopro em teus anseios/,



e prossegue pela arte:



Toda palavra se renova em seu ofício,/todo verso vasculha venhas cinzas/,



porque a criação do poeta compartilha o gesto do Criador:



É preciso criar quando se crê,/é necessária a fé antes do fim,/rogar por quem (na fé) perdeu seu Deus.../Neste poema há mais que a minha vida.



Se pertence à essência humana buscar a eternidade, essa busca realiza-se na temporalidade de nosso exílio: Somos a nossa ação por sobre o tempo, diz o poeta em seu verso. E assim, Silvério Duque exerce seu ofício de porta-voz do Eterno pela arte que pratica como exímio escritor.




Hilton Valeriano

Um comentário:

  1. Hilton Valeriano,

    És um jovem escritor preocupado em apresentar uma literatura diversa, mas de profunda qualidade. É o que se pode ver no empenho que demonstras ao editar teu blog.

    Em tua proposta de trabalho, é fácil perceber teu empenho numa crítica realmente verdadeira que é aquela capaz de acrescentar àquilo que analisa, pois toda boa crítica é pessoal, é assinada, é carregada de elementos que, em sua forma artificial, comumente são minimizados; todavia, a preferência pessoal é crítica, sim! Se um crítico não pode contar com seu gosto, com seu senso estético, com seus valores, como também o fazem os poetas, artista, escritores... Do contrário, como criar então, à maneira da própria poesia, algo verdadeiramente humano, susceptível às mesmas características que lhes serviram de ponto de partida e de criação.

    Uma crítica impessoal não é digna de seres humanos, mas de máquinas ou construtivistas – o que, para mim, dá no mesmo. Uma crítica que procura defeitos, que perdeu toda e qualquer capacidade de admiração é mero exercício inglório de frustração e de gênio agastadiço.

    Só não sei dizer se, dentro deste teu processo crítico, deste teu empenho na apresentação de uma poesia de qualidade, que eu tanto admiro em ti, mereça fazer-me presente, muito menos merecer tão grandes e belas palavras; e ainda, se já não fosse suficiente, colocar meu nome numa linha de frente onde constam Eliot, Rilke e meu tão amado Jorge de Lima.

    Todos afinal de contas, somos portadores da Eternidade, por virmos d’Ela e retornaremos a Ela, mas não sem antes nosso coração padecer de inquietude.

    Mesmo assim, agradeço-te, porque, mesmo não me considerando o poeta que acreditas que sou, viverei e morrerei buscando este objetivo, meu amigo. E é isso, assim Deus queira, que me fará grande.

    Abraço Fraterno,

    Silvério Duque

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