quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DOIS POEMAS DE DAVI ARAÚJO



(Livro Ruído)




ontologia fonética

encontrei uma língua de quimera a soar insabida ao ser que se era
para que todos os sentidos se iluminassem em todos os sentidos
a acordar para o grande sonho de inaudito inominável que espera
quando e onde o próprio ser é poesia a reler versos jamais lidos


alter et idem

eis que a ave volátil declama o peixe solúvel
e de repente a geografia de uma rasura
conta a história d’alguma literatura
e são os ininteligentes elegíveis
na universalidade intraduzível
ismismos mesmo preferíveis
à grande banalidade indigerível
que a biblioteca me preserva a ignorância
porque o pior labirinto é uma linha reta
se nas leituras solitárias desde a infância
tornar-me um outro e o mesmo é a meta
contemplo o duplo na reflexão volúvel
altero-me só um pouco e no reflexo
outro é um eu de mim desconexo

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