O Regional e o Universal: como transpor suas fronteiras no plano da escrita literária? Expressar a confluência de estéticas diversas que afloram de forma singular, mas que simultaneamente refletem a universalidade da cultura em sua dimensão simbólica, ou seja, a excelência do humano em sua busca de sentido? W. J. Solha, artista múltiplo, ensaísta, poeta, pintor, romancista, traz em seu Relato de Prócula o peso dessas indagações. Narrativa intertextual, que na figura de seu personagem central, o padre Martinho Lutero Libório, expõe de forma instigante as grandes questões concernentes à história do Cristo, sua significação religiosa supostamente oculta por tramas políticas decorrentes do jogo pelo poder, e ao mesmo tempo, revela a cultura rica do sertão da Paraíba, sua relação com as artes, cinema, poesia, filosofia, pintura, romance... Um dos momentos mais expressivos do livro, que revela a importância da cultura como estigma do humano, é a descrição da personagem Corrinha, uma poeta, da biblioteca do padre Martinho. Verdadeira simbiose do gênero humano, universo irradiador de significação, talvez, um dos principais traços do grande Nordeste, o que faz de Relato de Prócula um livro regional e universal por sua temática, e também erudito pela confluência de nomes expressivos da literatura e arte que sustentam os diálogos e questionamentos dos personagens, reflexo de um grande escritor.
Hilton Valeriano
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